quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

In extremis


Uma angústia com cheiro de ausência

Caiu sobre mim.

Estendi as mãos,

Minhas palmas só sentiram a rebeldia dos ventos...

Desejo



Que não caia na noite insone

A estrela que estou a contemplar.

Que me venham as melhores sensações.

Revestidas de palavras raras.

Para que o meu poema se faça

Com boas feições

E se imponha aos homens...

Eternas indagações II



O que cabe no meu poema?

O afeto fétido da América Latina?

A angústia do mundo?

As estradas de minha infância?

O trigo e o joio?

As curvas do teu corpo?

A ventania de todos os dias?

As espadas que se irmanam?

a rebeldia das sílabas?

A lágrima dos mortos?

As pálpebras de Cecília Meireles?

Os meus cabelos quase todos brancos?

Os óculos de Drummond?

O terno branco de José Alcides Pinto?

A última estrela da manhã?...

Meu poema tudo suporta,

Tudo lhe é cabível.

Até o que não imaginas....

Epitáfio

Que a poesia seja concebida com pecados,

Com palavras, atos, vozes e imagens...

Em memória de mim

Em memória de ti

Em memória de nós...

Paralelo


Goethe e o "Mal do Século"

Dormem entre tijolos

Do muro da História.

Outros males nos azucrinam a alma

Nessa nova Era.

A morte persegue-me todas as noites

Tenho medo

Busco minhas mãos nos bolsos

Encontro-as medrosas,

Oculto-as no âmago de velhos poemas....

Postal

Tu és um postal raro

Repleto de paisagens

Com cotidiano diversos,

Isentos do caos....

Fênix

Hei de renascer das minhas próprias cinzas.

Quando eu estiver refeito

Olharei-me íntegro, sólido

Terei o tempo nas minhas mãos

E tudo o que meu coração desejar...

Na janela

Da minha janela

Contemplo a rua e a noite tímida.

O vento invade minhas narinas

Com o cheiro do teu sexo.

Sento-me na cadeira de balanço,

Abro-me às lembranças.

A janela aberta

Não impede que nada passe por ela.

Abro os olhos e percebo

Que mundo jaz no meu quarto.

sábado, 2 de janeiro de 2010

convicção

Eu sobrevivo entre os abutres

Não sei como

Mas subsisto.

Contemplo meus mortais diletos.

Destino-lhe beijos ,acenos

e sigo minha sina

convicto da persistência dos combates

Submisso

Beba coca-cola e sonhe em new york

beba coca-cola e babe

beba coca-cola e acredite que a nação do tio Sam

é besta, pura e casta

beba coca-cola e arrote suas onomatopéias fétidas

beba coca-cola e sinta um novo sangue correndo

em suas veias

beba coca – cola e boceje civilização

beba coca-cola bípede transitório

o dia está terminando

tu terminas também

e este líquido

idem

o vasilhame ficará por aí

submisso as ações do tempo

sem as memórias da tua boca

e das tuas mãos(29/10/2009)

Caos

Após o caos

O caos

O grito

O silêncio

Uma lágrima abre caminhos

No solo da face exausta.

Ismos



beleza está morta.

Tzara falou aos ventos.

Os amantes da beleza que contemplem Gioconda

Nas sucatas que hão de perambular por aí.

Se a beleza está morta, bem morta,

O que nos resta?

Morrer de tédio?

Ter a visão idealizadora dos Românticos?

O que dirão os poetas?

O tempo que vai e vem, envelhecendo os mortais,

Estabelece uma nova ordem:

Cantar,

Brincar,

Debochar,

Fomentar o caos...