Dizei-me em que lago ou rio
jaz a inamovível Ofélia.
Ofélia, a louca, afogou-se.
Ofélia, a louca, em que lago
ou rio de correnteza,
entre sebes afogou-se?
Entre estrelas, orvalho, espuma
afogou-se a bela Ofélia?
Lua de alvo palor,
dá-me notícia de Ofélia
que por amor, só por amor,
levada na correnteza,
como um círio, um cisne, uma pétala
entre lágrimas afogou-se.
Dá-me notícias o vento?
Nem a fonte sussurrante
viu passar a louca Ofélia?
A doce pomba no abrigo?
Nem os pássaros viajantes
dão-me notícia de Ofélia?
Pelos bosques afagantes
não passou a pálida Ofélia?
Corvos da noite, gralhas, tempestades
que varrem as nuvens, por acaso,
não vistes um grão, um só grão
do corpo úmido de Ofélia?
Voa incerto sobre cerros,
planícies, desfiladeiros,
o corpo álgido de Ofélia?
Se, em verdade, Ofélia é morta
à penugem fatal do amanhecer.
Dizei-me se à vespertina luz
Ofélia, a louca, apodrece.
Dizei-me, ó sopro da tarde,
se Ofélia, a louca, repousa
em pântano resplandecente.
Dizei-me se ouço a voz dela
que só aos deuses é dado ouvir
seu nome apenas; dizei-me
se não é de anjos essa voz flutuante
na vaga do céu descorado.