Às vezes de manhã
Às vezes à tarde
às vezes antes de dormir...
(Publicado na revista mundo jovem em 1992)
Que ninguém o faça
Que ele se refaça
Nos seios esqueléticos
Das mudanas que eu não conheci...
Que ele sangre das pedras
E se transforme em pães
Para alimentar os filhos
Os filhos que eu não fiz
Que ele grite nas capoeiras
Que ele dance ciranda
Que ele pule nas praças
Que ele fecunde os ventres
Todos os ventres sedentos
E faça com que nas madrugadas
Surjam choros inéditos
Novas crianças
O poema que eu não fiz
Que ninguém o faça
Que ele se refaça
No seu silêncio...
Quero chorar com os cães -
Cães solitários....
Nas ruas desertas caminharei,
Aliarei-me aos vigias,
Para que a noite não caia nas mãos dos vândalos...
Seguirei o cio da brisa,
Que agitará o meu sexo,
E conduzirar-me à mulher...
Que saltará dos olhos da lua...
A Mazé Marinho
Amiga,
Vamos correr nos campos
Vamos contemplar os lírios
Vamos nos ocultar com o sol atrás das montanhas
Vamos ao encontro do pão que jaz no forno,
Podemos reparti-lo com os famintos.
Vamos partilhar nossas alegrias com os descontentes
De toda a terra.
Vamos dividir nosso leito, nosso amor
Com todas as gentes.
Vamos semear trigo na terra dos nossos ancestrais.
Vamos ler poesia quando a noite chegar.
Vamos perseguir a lua até alcançá-la.
Vamos dançar ciranda entre o céu e a terra.
Vamos caminhar nas estradas
De nossa infância.
Vamos nos tornar crianças,
Para que nos deleitemos no reino
Que nos foi prometido...
O poeta envelhece
entre os homens.
A morte não lhe é uma
ideia absurda
É uma certeza que se impõe
Todos os dias,
Tornando-se uma algoz indesejável.
Cruzes fincadas no solo
Vigiam jovens, velhos, anjos e demônios
Que repousam eternamente?
A tarde finda
O sol escorre
Adentra-se nos poros
Da terra fétida...
Qundo a indesejável das gentes
Vier me bucar
Que meu retrato fique pendurado
Na parede
É o tudo ou o pouco do resíduo
Que sempre fica
Para que a memória persista
Nas açõe(cruéis)do tempo.(21/06/09)
Aos doutores das letras do Ceará
Eis me aqui
Com mais uma morte cravada na alma
Sem poder erguer um protesto.
Eis me aqui indefeso
Submisso ao império dos vermes
E dos seus brasões
Definidores da razão
No universo das letras.