sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Seu corpo























Seu corpo é uma hóstia fina, mínima e leve*
Guardo-o no meu sacrário de memórias
para que dele meu espírito se alimente
quando não estiveres mais aqui
O vento não o levará
nem o tempo com sua passagem
nem a lei com seus domínios
porque estás entranhada em mim
porque és o bem que terei
até o meu último suspiro... (31/10/13)

Verso inicial de Pablo Neruda *





Retrato




















Venha molhada
Fria
Com esses peixes que trazes
Nas mãos
Oh mulher que desconheço!
Oh mulher implícita!
Que escapou do dilúvio
Escaparás de mim se desejares
Venha molhada
Fria
Não podes vir de outra forma
Abandona essa moldura
Para que sigamos as mesmas andanças
(Re) começando um novo mundo
Onde a vida reinará ao lado da esperança. (23/09/13)





Cotidiano II




Ando pelas ruas
Pessoas, carros, passam por mim
Olho-os
Deixo meu olhar nos olhos
De algumas mulheres.
Não sei se ele ficará nas suas memórias
Sei que dobro a esquina
Outros carros
Outras pessoas
Passam por mim
E me levam
Nas suas retinas exaustas
Eu não me esquecerei dessas coisas
Pois sei que fiquei me avolumando
Nos alforjes dos sentimentos
Que ainda subsistem
Em alguns mortais... (25/04/13)


Profecia



Sou poeta
E um dia serei lido nas universidades
Chamarei a atenção dos críticos
Que dirão coisas que eu não disse
Até verão coisas que eu não vi
Minha poesia em fartas brochuras
Se  equilibrará nas estantes das diversas bibliotecas
Que se avolumarão no meu país
Atraindo mãos juvenis
Sedentas do meu estro. (25/02/13)

                                                                      

Xadrezando






Tiro da aqui
Boto ali
Os peões em ação unem-se aos cavalos
O rei e a rainha sempre imunes
Os bispos e as torres se curvam
Eu desejo a rainha
Boto aqui
Boto acolá
Ela se esquiva
Ignoro o rei
Os peões se armam
Unem-se aos cavalos contra mim
Os bispos me destinam ao fogo do inferno
Boto aqui
Boto acolá
Penetro a multidão
A multidão grita
A rainha grita:
-Adorável cafajeste... (29/01/13)