terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sob o sol de outubro


sob o sol
sobre uma bicicleta
sobre duas rodas
sobre o ar
pneus sobre a estrada
pés, pernas giram os pedais
a estrada se estica
vejo distâncias
eita sol intenso!
já é outubro
e o poeta sob o sol
insiste em chegar
porque sua casa lhe espera
numa das ruas da cidade. (03/10/20)

Sempre dito



ninguém é meu nome

já disse não quero discípulos

nem seguidores

siga seu caminho se é que tem um

não queira saber meu nome

nem onde hei de repousar a cabeça

ninguém é meu nome

pra calar sua voz

e sua indagação. (23/11/20)

Pra valer

 não me peça um poema

escrevo-os com liberdade

me peça pra lavar a louça

limpar a casa

cumpro essas tarefas

mas um poema não me peça não

sou do tipo que não promete

se prometo é pra valer.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Chamado juvenil


volta ao pampa, pai 
o poeta insiste no chamado
o chimarrão pesa-lhe nas mãos
as sandálias não saem do lugar
o poeta sai de si
entra em outro corpo
noutra voz
chama o pai
mas seu pai não vem. (17/09/20)


O verso inicial é de Carpinejar 

Quando rezo o terço


adormeço com Ave Marias nos lábios
acordo rememorando mistérios rezados
o terço no chão trago-o ás mãos chamo a trindade santa
e vou deitar-me sabendo que rezei
mas o terço ficou incompleto.

Sob o sol


tudo vira lama
nas valas 
nas sarjetas
nos jazigos
tudo vira lama
a céu aberto
sob o sol
ou nas trevas
tudo vira lama
e o tempo passa
carregando o esquecimento nas costas
o lamento que se ouve vem dos retratos nas paredes
bordando memórias no ar.  

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Na minha rua


o morto não chega
as pessoas se avolumam na rua
o tempo passa
o morto não chega
em vida alguém o esperava?
ouço esta indagação
o vento afasta outras tantas de mim
o tempo passa
e o morto não chega
o poste exibe sua luz no beco contrito
o povo sob a luz
o tempo sob a luz
e morto não chega. (28/09/20)

Chamado juvenil





volta ao pampa, pai
o poeta insiste no chamado
o chimarrão pesa-lhe nas mãos
as sandálias não saem do lugar
o poeta sai de si
entra em outro corpo
noutra voz
chama o pai
mas seu pai não vem. (17/09/20)


O verso inicial é de Carpinejar



Das linhas de carpinejar


estavas fora de ti
quando rocei o teu rosto
se tu pensavas em alguém
e não em mim
não me diga nada
deixe-me ir decifrando enigmas
reais/irreais
deixe-me ir sofrendo
com todas as dúvidas
dessa vida finita. (14/09/20)


os versos iniciais são de Carpinejar

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Em tempo presente

 



esqueci-me de ti

dizem-me que tens olhos verdes

bem grandes

dizem-em que és linda de morrer

não lhe busco na memória

lembrar de ti não faço questão

se não estás no meu lembrar

é porque não deves estar no meu viver. (31/08/20)

Sob o olhar




vale a pena voltar para casa com um poema

vale a pena andar pela cidade e colher a poesia do vento

vale a pena respirar fundo diante de ti

dos teus olhos

do teu encanto

vale a pena fechar o livro porque leu-se até o fim

vale a pena semear versos aqui

acolá

embora tu não os leia

vale a pena a vida finita que se vive

sob o olhar do infinito. (31/08/20)



No meu calvário

 



no vale de lágrimas chorei

diante do desterro pesou sobre mim o degredo

busquei minha mãe Santíssima

que não me ocultou Jesus

não o vi mas me senti sob o seu olhar

e dos meus olhos lágrimas rolaram pelo caminho

que anunciava o meu calvário. (25/08/20)



sábado, 1 de agosto de 2020

Enquanto passas


As tuas pernas ainda são as mesmas
O tempo passou
E eu ainda me encanto com elas
Digo isso a mim enquanto tu passas
E me olhas e eu não sei se tu me vês.



És tu


encanto-me com teu retrato
salvo-o no meu drive
volto a vê-lo
minhas impressões se reiteram
tu estás bem mais linda nesta imagem
chego a pensar que tu és outra pessoa
apenas penso
mas não duvido
és tu
és tu.

Minha sina


olho a cruz de Cristo ergo a minha e me vou
minha dolorosa paixão se impõe a mim
meu calvário é minha sina
tá nas bocas dos profetas
ouço - o desde menino
nos cordéis esticados no mercado.


Dito e feito


meu filho fez o sabiá se entristecer
fez o céu ficar bonito pra chover
e choveu
foi tanta água que até afogou a infeliz
que um dia fez pouco caso do seu amor.



segunda-feira, 6 de julho de 2020

A palavra

a palavra pesa
enverga o aço
entorta a nuvem
inclina a sina dos malditos
a palavra pesa
na boca
no papel
no silêncio
trancada no cofre.
a palavra pesa
na feição do universo
nas mãos de Deus
nos ombros dos oprimidos
a palavra pesa
no contexto
nas mãos postas
no homem de joelhos
no teu adeus
na minha solidão.

Dizeres perdidos do vate


andei por sete províncias e tu dormias
voltei olhei-te e tu dormias
danei-me pelo mundo vi meu rosto no brilho das lâminas
guardei-as não matei ninguém
vi distâncias alcancei as que eu desejei
o que tava longe ficou perto
desafiei o diabo ah nesse aí eu fiz uns furos
voltei exausto bebi água dormida na quartinha
tu dormias deitei-me ao teu lado
volumoso de aventuras sem ter para quem contar.

Enquanto lavo a louça


enquanto lavo a louça
penso nos meus pecados
confessados e omitidos
enquanto lavo a louça
sinto-me exausto
até me espanta o volume de pratos,panelas e copos
enquanto lavo a louça
penso que sujamos e limpamos o tempo todo
imagino que meus pecados são assim
sujo-me e limpo-me diante do sacerdote
enquanto lavo a louça
o tempo passa e a metafísica se avoluma em indagações.



sábado, 2 de maio de 2020

Notícia de jornal noturno


e daí ?
apenas uma indagação?
fere os que sobrevivem
faz sangrar os cadáveres
deixa- nos sem capa num dia de chuva 
entrega - nos á morte
e daí?
revela- nos omissão política
abre mais covas no solo
dar á morte mais ação
e a roleta russa gira mais veloz
e daí ?
o presidente vai aos tiros com sua arma dileta
enquanto acerta o alvo erra em sua postura humanitária
sente - se vitorioso e se vai
e daí?  (30/04/20)













Lotação



filas enormes dobram esquinas no meu país
sob o sol
sob o céu
sobre a terra
homens choram
sob a chuva
sobre a terra
covas abertas nem ficam exaustas em suas esperas
sobre a terra
sob o céu
a lotação se confirma
sob o céu
sobre a terra. (28/04/20)

Fome


fiquei exausto de ler poemas
uns eu entendi
outros nem um pouco
mas poeta é assim mesmo
precisa enfileirar fonemas
tecer linguagens
matar sua fome
e acalmar seus demônios. (25/04/20)

quarta-feira, 1 de abril de 2020

intensamente

Peço-lhe um beijo
Aí tu me vens com os seios nus
Aproximando-os dos meus lábios
Beijo-os intensamente
Tu me olhas sorrindo
E te vais fechando a blusa
Deixando nas minhas narinas
O cheiro dos teus mamilos. (14/12/17)

Nos cômodos da casa



Os gatos falam nas fábulas que me contaram
A gata ( Léo) lá de casa
Só mia
Mia só
Nada me diz nem quando eu indago
Ah se eu pudesse levá- la ao mundo das fábulas !!!
E trocar seus miados por palavras
Seria bom ter sua fala nos cômodos da casa. (03/03/19)

Teu beijo


só me recordo da tua boca na minha
acho que nem vi teus lábios
se aconteceu algo mais
perdoa-me por não lembrar
nem sei quem és tu
só sei que acordei feliz
por causa do beijo teu. (29/03/19)

Discurso quaresmal



a paixão não está na ceia
não se deita na cama quando o sono chama
não anda pelos cômodos da casa nas noites insones
nem dar as mãos quando o dia se tece
esbanja-se da falta de compaixão nas ruas
entre quatro paredes
nos tribunais
nas igrejas
entre iguais/desiguais
não sabemos o que estamos a fazer?
indago aos transeuntes da minha cidade
ouço risadas
não olho para trás
e me vou com tantas faltas
carecendo de remendos
porque não sou prendado. (11/04/19)



terça-feira, 3 de março de 2020

Autobiografia

Na minha cadeira de balanço
Balanço o mundo
Acalento as mulheres
Bebo o tempo
Leio João Cabral de Melo Neto
Cochilo
Fito os olhos da vida
Que exibem numa máscara inédita
Os olhos da morte...

Oscilação



 oscilam tuas medidas
oscilam os números dos teus calçados
tu te inquietas
tento acalmar-lhe enquanto buscamos algo que te agrade
na imensidão do shopping
ficas exausta
eu finjo disposição para novas tentativas
teus limites se esgotaram
o caminho de casa nos chama
e tua mão já acena para um táxi.



Pés peregrinos


nas alturas a cruz
sob a cruz o pecador
sobre a terra os pés peregrinos
sob o sol
a cruz
o pecador
os pés peregrinos
a voz exausta
o louvor estendido
da voz rouca
que se eleva  ao céu
para cair nos ouvidos de Deus.  (03/03/20)





segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Gênese

uma manhã
uma tarde
uma noite
um dia
uma semana
um Deus cansado.

O que não pode faltar


que falte panos para as mangas
que falte tecido para o vestido
que falte linhas e agulhas
que se esqueça de voltar a costureira
só não me pode faltar a tua nudez.

Enquanto espero



espero ficar tarde
espero o tempo passar
encontro onde sentar-me
sento-me
penso num poema
vejo uma mulher pensando
e se ela não estiver pensando?
vejo-a fechar os olhos
deito-a no poema que eu estou a fazer
para que lhe venha o sono
ainda é cedo
e eu espero o tempo passar
para que tudo fique tarde. (22/07/19) Rodoviária/Fortaleza/Ce












quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Na existência


que tempos são esses?
tudo se parte
tudo se divide
há uma ausência em tudo
tudo falta
nada se aproxima
e as distâncias se avolumam
no caos da existência. 


No meu caminho


não era um rato
não era um gato
nem um bicho
era um homem curvado
buscando utilidades no lixo
olhei-o enquanto caminhava rumo a labuta
pesou-me a tristeza
joguei indagações para o céu
esgotei toda a metafísica que havia em mim
Deus continuou em silêncio
se Ele falou algo
não o escutei no barulho da cidade. 


Discurso do vento natalino



a cidade cheia de luzes chama o natal
o menino jesus vem mas não tem uma pedra
para o repouso da cabeça
são tantas vozes nos templos nem escutam o menino
a pedir comida, um lugar para adormecer
nos lares uma fartura, tantas alegrias
que não consolam o menino solitário
andarilho da cidade grande
filho de Deus
de Maria e José.