terça-feira, 2 de outubro de 2018

Essa negra


Essa negra é muito linda
Se ela desejar eu serei seu escravo
Regarei a sua flor para que ela não perca o viço
Essa negra é muito linda
Não sei de onde ela veio
Ela é diferente das negras daqui
Eu a quero para mim sem senzala
Livre como o condor
Essa negra é muito linda
Quero-a sentada sorrindo no meu falo
Com a nuca exposta chamando os meus lábios
E eles cativos farão as suas vontades. 



Teu vestido


o vento se move  por baixo do teu vestido
eu o quero para mim para que fiques nua
neste momento diante de mim
que tenho tantos desejos
invejo o vento que sobe e desce pelo teu corpo
sem te incomodar
meu olhar fixo em  ti nesta hora
em que o tempo passa te inquieta
e tu te vais destinando-me desprezos. 



Na cidade




Lá vai São Francisco louvando Nosso Senhor
Com seu traje bem sujinho
Cá estou eu com meu jeans desbotado e minha camiseta de brechó
Calçando os pés com sandálias de couro
Sendo transeunte na cidade
Sendo franciscano entre os mortais
Sendo irmão de todos numa única família
Louvando o irmão sol desta manhã
Falando ao vento:
-“o amor não é amado”
Meus irmãos em seus veículos todos apressados
Encostam em mim e gritam:
- Cala a boca louco!!

Esta noite




Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Não os quero ao meu lado
Não os quero diante dos meus olhos
Não os quero na minha cabeça nem nos meus papéis
Entrego-os ao vento que busca o mar
Fecho a janela
Apago a luz
E rendo-me ao sono que me ronda. (19/09/18)



O primeiro verso é de Pablo Neruda