sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Chegada

Bananas apodrecem no país
Bananas apodrecem na quitanda de Chico Mota
Que se foi com minha infância
Bananas apodrecem nas mesas das cozinhas das casas
De todas as classes sociais
O país apodrece sob o céu
Sobre a terra
O tempo passa no meu país que apodrece
A voz da minha amada me chama
O poema pode esperar?
Meu país pode esperar?
Minha amada pode esperar?
O país apodrece e o seu mel não tem sabor
Há fomes urgentes
Há bananas passadas
Há bananas podres no poema
Aproximo minhas narinas
Chega minha infância
E o meu país apodrece. (04/07/17)



O ato

O amor não tem hora
Pode até ter tempo
Mas esse tempo não se marca
Não se mede
A medida é nenhuma
O amor não tem hora
Tem desejo
Antes ou depois do sono
Ou numa noite insone...
O vento desnuda a amada sonolenta
O corpo lateja
A alma faz parceria
E nessa cumplicidade
Tece-se o ato. (19/07/17)



Na hora do almoço

é hora do almoço
no centro da mesa minha solidão
meus braços,minhas mãos sobre a mesa
meu prato farto
meu cálice com vinho
sempre do meu lado esquerdo
é hora do almoço
e nenhum moço me olha
não há moças na sala
busco olhares
nada encontro
o que vejo tá no centro da mesa
fala e se cala. (01/08/17)

Antes de tudo

Clarice,todos os dias osculo tua face
No retrato que mantenho na parede
Deito meu olhar nas tuas páginas
Encanto-me com teus dizeres
Volto ao corredor
Afago os teus cabelos
Imagino que me sentes
Destino-lhe meu sorriso
E me vou aos afazeres
Lamentando não tê-la conhecido. (04/08/17)