sábado, 3 de junho de 2023

Visível



Recebo uma nova idade neste dia 18\05\23
Num tempo que passa
Na vida que finda
Na presença da morte que reina no mundo
Recebo uma nova idade e mais velho estou
Tenho muito para dizer por que vivo entre a cruz e a espada
Vivo entre o bem e o mal
Sendo santo e pecador
Recebo uma nova idade com alegria
Conduzo-me numa bicicleta para outra cidade
Exibindo-a visível no meu corpo
Que está ficando antigo. 

No tempo

Dentro do tempo veloz
Eu estou
Dentro do tempo veloz
Envelheço
Dentro do tempo veloz
Pedras não ficam sob pedras
Dentro do tempo veloz
Tudo passa, pois nada é para sempre
Dentro do tempo veloz
Uns vivem, outros morrem
Dentro do tempo veloz
Lágrimas e sorrisos
Dentro do tempo veloz
Eu e tu
Tu e eu
Horas em silêncio
Horas aos gritos
Aprendendo e desaprendendo
Trilhando os caminhos da infância
Que não alcança a criança que fomos.

Com o tempo diante do espelho


Na juventude as minhas sobrancelhas eram alinhadas
Os pelos não se rebelavam e eram negros como a noite
Agora que envelheço vejo-as desalinhadas e grisalhas
Os pelos se alongam para cima como se fossem antenas
Como se desejassem alcançar os céus. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Na persistência do tempo

o tempo passa silencioso no meu relógio
e no meu pulso
os ponteiros se movimentam
o silêncio persiste diante da vida
que nasce e morre.

Súplica de cá para muito longe

portugal, portugal, estou saudoso de ti
como posso vos amar sem vos conhecer?
senhor Deus não me permita sair desta vida
sem antes beber vinho em Lisboa
sem antes sorrir para homens e mulheres deste país de tanto mar
portugal, portugal, estou saudoso de ti
habite nos meus ouvidos as vozes dos fadistas
transborda minha taça com o teu melhor vinho
venha buscar-me Ana na tua nau de palavras e sonhos
antes que a indesejável das gentes me encontre por aqui
portugal, portugal,estou envelhecendo e o desejo de conhecer-vos
amadurece comigo
não permita Senhor Deus que eu me vá sem antes deitar os olhos
no teu mar e no teu céu
não permita Senhor Deus que eu me vá sem antes sentir o teu chão sob os meus pés.
que os anjos digam amém
e os sinos também.

No tecido da metafísica

Voltando para casa achei um terço na estrada
Peguei-o e guardei-o no bolso
Em casa contei as contas no terceiro mistério faltava uma
Quem o fez não se deu conta?
Quem perdeu o terço nada percebeu ao rezar?
Se não percebeu ficou devendo ave-marias?
Indagações se avolumam em mim
Omito-as do poema deitando-as no tecido
Exposto pela metafísica.


quinta-feira, 13 de abril de 2023

Labuta de Sísifo

 Ao terminar um poema respiro

Como se findasse uma meditação

Olho a minha volta e ainda estou aqui

Sentindo tantas coisas entre os mortais

Vendo o que ninguém ver

com palavras novas para ouvidos

que não querem ouvir. 

 

Passando com o tempo

 

Se me encontrares no meio do mundo

Não me reconheça

Se me encontrares no meio do mundo

Siga seu caminho e não olhe para trás

Se me encontrares no meio do mundo

Não me destine acenos

Se me encontres no meio do mundo

Não me olhe nos olhos

Se me encontres no meio mundo

Duvide do que julga ver

Se me encontrares no meio do mundo

Seremos silêncios passando com o tempo.

Numa total invisibilidade.

 

Na memória

 

vendo-lhe mulher feita

recordei quando tu eras uma menina

e num abraço eu te erguia do chão

tua mãe não gostava disso

mas tu gostavas

quando me vias corrias para mim

para ficares nas alturas

nos meus braços. 

 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Neste dia



Ando pela cidade buscando o pão de cada dia
Contido na poesia que me alimenta
Olho os prédios competindo entre si nas suas alturas
Carros apressados me lambem nas ruas
Transeuntes olham para mim enquanto converso com metáforas
Que não cabem num poema
O sol impiedoso sobre mim desprovido de um chapéu
Insisto nas andanças pela urbe
Insisto na busca da poesia
Uma mulher se aproxima de mim
Sondo palavras nos seus olhos no silêncio que nos envolve
Passamos um pelo outro e nada levo dela
Para bordar no meu tecido poético deste dia. 

Nos espaços



da tua escrita ouvi a tua voz
guardei-a nos ouvidos
gritá-la-ei aos ventos?
os ventos já sabem e ouviram a tua fúria
o que direi aos ventos?
Tua escrita e tua voz ordenam-me a dizer:
“o mundo tá cagando para os poetas”
esses seres invisíveis entre os mortais
pesando no ar e ocupando os espaços do planeta.

Rememorando Mário Gomes


 sonhei que eu pedalava numa longa estrada

uma carrada de bucetas passou por mim

sem um cu por baixo

isso tem nexo?

indaguei ao vento que afagou o meu rosto

o vento me disse poeta é um sonho

é como na ficção tudo pode.