quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Na minha memória

 

encostaste as virilhas no meu cotovelo esquerdo

enquanto passavas por mim no corredor do ônibus

virilhas quentes tu tens

virilhas sob o jeans azul

virilhas ardentes ficaram na minha memória

avolumando os meus pecados. (29\11\23)

 

Na cidade

 

transeuntes

calçadas

andanças

olhares

indiferença

cidade sob o sol

presépio

todo dia sob o céu

no tempo que passa

no presépio permanente

na urbe que não ver. (30\11\23)

 

Ponte infinita

 

eu canto para me consolar

meu grito é um protesto

meu poema é a minha forma de fazer justiça

eu canto

eu grito

e ao parir meus poemas pela cidade

vou-me completo

sendo negro com os negros

e pobre com os pobres

para que minha cantiga os anime

e o meu grito não os deixe dormir

por muito tempo. (07\12\23)

 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Raridade vespertina

 Não fico indiferente ao teu cruzar de pernas

Coxa sobre coxa

Perna sobre perna

O que eu poderia ver entre as tuas pernas?

Tudo tu ocultas nessa tua pose

Mas o meu olhar penetra nas trevas

De um túnel inexistente e acredita ver algo

Que se deixa mostrar apenas aos poetas. (20\10\23)

 

Via sacra cotidiana

 Jesus Cristo está na beira das calçadas

Jesus Cristo está tatuado nas costas dos excluídos

Jesus Cristo está nu da cintura para cima

Transeuntes indo e vindo

O tempo passando

Veículos velozes e furiosos?

O semáforo sangra sob o céu

Carros em fila paralisados

Jesus caminha entre eles com as mãos estendidas

Finda o percurso sem nada nas palmas. (27\010\23)

Desejo matinal

 Eu quero as memórias das putas tristes

Quero deitá-las num poema

Quero lê-las num livro

Eu quero as memórias das putas tristes

Doendo em mim enquanto as vejo em fotos diletas

Putas nunca as tive nem as terei

Mas hoje eu as desejo nas páginas amareladas do Gabo. (01\11)

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Visão vespertina I

 

Teu corpo branco nu

Teus cabelos loiros sobre os teus seios

Teu umbigo cheio de ar sob o céu

Teu púbis loiro ofuscando o sol

Meus olhos correndo pela tua nudez

Que se imagina solitária nessa ilha

Que eu inventei só para ti. (20\09\22)

Ao que me completa

 

Senhora poesia


Ninfeta poesia

Puta poesia

Penso em ti o dia todo

Tenho tempo para ti

Todo o tempo do mundo

És o meu ofício e oração cotidiana

Não me dás o sustento

O pão de cada dia busco em outra labuta

E nessa labuta tu és o que sobra em mim. (25\11\22)

Tua bunda

 

vi tua bunda sob o jeans que coisa linda de se ver

quase fiquei cego de tanto vê-la

cantei para sua bunda

segui-a dançando pela rua

dobrei a esquina para que não me visses

tão contente por causa da tua bunda. (02\10\23)

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Da minha terra

 iracema

iracema

tu dormes nua no meu poema

depois de teres me coberto

depois que eu te cobri

iracema

iracema

eras a virgem dos lábios de mel

dos verdes mares da minha terra

iracema

iracema

agora tu tens a flor deflorada

mas tu domes feliz comigo

no teu sonhar. 

 

Dia de domingo

 na fila

a fala

o stress

o silêncio

na fila

uma linha reta

uma linha curva

que se desenha no piso do mercantil

na fila

tantos pés

pernas diversas

até se inquietam

mas não andam. 

 

Aparição de final de agosto I

 tu vens com os teus micróbios sorrindo para mim

ficamos próximos

minha boca na tua

nossos micróbios se unem ou se devoram

neste instante do beijo

tudo é tão gostoso sob o céu

mas tu te vais e o que me resta são memórias e salivas sobre os lábios. 

 

sábado, 5 de agosto de 2023

De um dizer



Que coisa é a formosura, senão uma caveira bem-vestida (...) Pe. Antônio Vieira

ludo-me com as caveiras enfeitadas
vejo beleza nisso
iludo-me com as caveiras enfeitadas
deito-me com elas
caio em suas ciladas
iludo-me com as caveiras enfeitadas
diante delas não domino a razão
a loucura se agiganta em mim
qual sermão me salvará?
qual sacerdote me acolherá em sua misericórdia?
abro os ouvidos, busco suas vozes
nada ouço
meu bom padre Antônio Vieira, vinde socorrer-me
iludido estou e não fujo das caveiras enfeitadas
como o diabo foge da cruz. 

Na parede da sala



os dias
as noites
os meses
os anos
no calendário
na madeira
da cruz de Cristo
na parede da sala.

Perspectivas



os prédios olham de cima para baixo
os ônibus lotados de falas e fonemas
os transeuntes com pressas involuntárias
e o poeta bêbado equilibrando-se no paralelepipedo
os prédios olham de cima para baixo
a moça manca na faixa de pedestre
os veículos se aproximando
os passos apressados
os prédios olham de cima para baixo
erectos como se fossem falos
nenhuma curva em suas linhas
bem fincadas no solo
os prédios olham de cima para baixo
o dia vindo
a noite chegando
o tempo passando
os prédios olham de cima para baixo
a freira ciosa
a adúltera transbordando desejos pelos poros
e um tarado se reprimindo bem distante
os prédios olham de cima para baixo
dois loucos deduzindo tudo
olhando de baixo para cima
desatentos a vida e a morte. (25\07\23) Fortaleza

Ao gosto



agosto
a gosto
no tempero
no amor plural
agosto
a gosto
nos pratos
nos paladares
agosto
a gosto
nos olhares
nas bocas
nos corpos ciosos
agosto
a gosto
no bom gosto
até o fim. (01\08\23)

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Uma mulher sentada

 



uma mulher sentada

é apenas uma mulher sentada ?

por que envelheço o olhar contemplando-a?

por que indago se o que vejo é o que eu estou a ver?

a queda de uma maçã faz surgir uma nova lei

e uma mulher sentada o que quer nos mostrar em sua pose despropositada ?

coleciono memórias de mulheres sentadas

meu olhar no cotidiano alcança a todas

por mais que eu indague ou queira entender

tentam me convencer que o que eu vejo

é apenas uma mulher sentada. 

Por todo dia

 

o corpo

a faca
a perfuração
o sangue escorrendo na lâmina
o grito se esticando no ar
a noite se acorda
desperta a cidade
para que vejam aos seus pés
o corpo
a faca
o sangue coalhado na lâmina
e fiquem a ruminar os suspeitos
por todo o dia. 







Devoto



sou devoto da tua nudez
curvo-me a ela
rezo para que tenhas vida longa
e não me abandones nas minhas noites insones
tu me olhas de joelhos e me destinas teu sorriso 
ordenando-me a erguer-me porque não és uma santa.

Mal começa o dia

 



mal começa o dia e tu já estás no meu pensamento

mal começa o dia e eu sou mais pecador do que ontem

mal começa o dia e eu já me vou fugindo de tantas tentações

mal começa o dia e eu já estou exausto

mal começa o dia e eu estou mais frágil diante de tudo

mal começa o dia e eu estou mais descrente

mal começa o dia e eu careço bem mais da bondade de Deus

mal começa o dia e eu sou tão finito

mal começa o dia e eu já penso num poema

mal começa o dia e eu me engasgo com uma metáfora

mal começa o dia e eu inquieto as dúvidas

mal começa o dia e eu lamento por não conseguir te esquecer

mal começa o dia e eu fico a chamar a noite

mal começa o dia e o meu poema inacabado ordena:

-poeta, vá dormir!!!

sábado, 3 de junho de 2023

Visível



Recebo uma nova idade neste dia 18\05\23
Num tempo que passa
Na vida que finda
Na presença da morte que reina no mundo
Recebo uma nova idade e mais velho estou
Tenho muito para dizer por que vivo entre a cruz e a espada
Vivo entre o bem e o mal
Sendo santo e pecador
Recebo uma nova idade com alegria
Conduzo-me numa bicicleta para outra cidade
Exibindo-a visível no meu corpo
Que está ficando antigo. 

No tempo

Dentro do tempo veloz
Eu estou
Dentro do tempo veloz
Envelheço
Dentro do tempo veloz
Pedras não ficam sob pedras
Dentro do tempo veloz
Tudo passa, pois nada é para sempre
Dentro do tempo veloz
Uns vivem, outros morrem
Dentro do tempo veloz
Lágrimas e sorrisos
Dentro do tempo veloz
Eu e tu
Tu e eu
Horas em silêncio
Horas aos gritos
Aprendendo e desaprendendo
Trilhando os caminhos da infância
Que não alcança a criança que fomos.

Com o tempo diante do espelho


Na juventude as minhas sobrancelhas eram alinhadas
Os pelos não se rebelavam e eram negros como a noite
Agora que envelheço vejo-as desalinhadas e grisalhas
Os pelos se alongam para cima como se fossem antenas
Como se desejassem alcançar os céus. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Na persistência do tempo

o tempo passa silencioso no meu relógio
e no meu pulso
os ponteiros se movimentam
o silêncio persiste diante da vida
que nasce e morre.

Súplica de cá para muito longe

portugal, portugal, estou saudoso de ti
como posso vos amar sem vos conhecer?
senhor Deus não me permita sair desta vida
sem antes beber vinho em Lisboa
sem antes sorrir para homens e mulheres deste país de tanto mar
portugal, portugal, estou saudoso de ti
habite nos meus ouvidos as vozes dos fadistas
transborda minha taça com o teu melhor vinho
venha buscar-me Ana na tua nau de palavras e sonhos
antes que a indesejável das gentes me encontre por aqui
portugal, portugal,estou envelhecendo e o desejo de conhecer-vos
amadurece comigo
não permita Senhor Deus que eu me vá sem antes deitar os olhos
no teu mar e no teu céu
não permita Senhor Deus que eu me vá sem antes sentir o teu chão sob os meus pés.
que os anjos digam amém
e os sinos também.

No tecido da metafísica

Voltando para casa achei um terço na estrada
Peguei-o e guardei-o no bolso
Em casa contei as contas no terceiro mistério faltava uma
Quem o fez não se deu conta?
Quem perdeu o terço nada percebeu ao rezar?
Se não percebeu ficou devendo ave-marias?
Indagações se avolumam em mim
Omito-as do poema deitando-as no tecido
Exposto pela metafísica.


quinta-feira, 13 de abril de 2023

Labuta de Sísifo

 Ao terminar um poema respiro

Como se findasse uma meditação

Olho a minha volta e ainda estou aqui

Sentindo tantas coisas entre os mortais

Vendo o que ninguém ver

com palavras novas para ouvidos

que não querem ouvir. 

 

Passando com o tempo

 

Se me encontrares no meio do mundo

Não me reconheça

Se me encontrares no meio do mundo

Siga seu caminho e não olhe para trás

Se me encontrares no meio do mundo

Não me destine acenos

Se me encontres no meio do mundo

Não me olhe nos olhos

Se me encontres no meio mundo

Duvide do que julga ver

Se me encontrares no meio do mundo

Seremos silêncios passando com o tempo.

Numa total invisibilidade.

 

Na memória

 

vendo-lhe mulher feita

recordei quando tu eras uma menina

e num abraço eu te erguia do chão

tua mãe não gostava disso

mas tu gostavas

quando me vias corrias para mim

para ficares nas alturas

nos meus braços. 

 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Neste dia



Ando pela cidade buscando o pão de cada dia
Contido na poesia que me alimenta
Olho os prédios competindo entre si nas suas alturas
Carros apressados me lambem nas ruas
Transeuntes olham para mim enquanto converso com metáforas
Que não cabem num poema
O sol impiedoso sobre mim desprovido de um chapéu
Insisto nas andanças pela urbe
Insisto na busca da poesia
Uma mulher se aproxima de mim
Sondo palavras nos seus olhos no silêncio que nos envolve
Passamos um pelo outro e nada levo dela
Para bordar no meu tecido poético deste dia. 

Nos espaços



da tua escrita ouvi a tua voz
guardei-a nos ouvidos
gritá-la-ei aos ventos?
os ventos já sabem e ouviram a tua fúria
o que direi aos ventos?
Tua escrita e tua voz ordenam-me a dizer:
“o mundo tá cagando para os poetas”
esses seres invisíveis entre os mortais
pesando no ar e ocupando os espaços do planeta.

Rememorando Mário Gomes


 sonhei que eu pedalava numa longa estrada

uma carrada de bucetas passou por mim

sem um cu por baixo

isso tem nexo?

indaguei ao vento que afagou o meu rosto

o vento me disse poeta é um sonho

é como na ficção tudo pode. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Ao acaso



se ao dobrar a esquina esbarrares em mim com os dentes afiados

se eu morder o teu coração sob o teu peito

se eu passar indiferente na tua presença

se a profecia não se cumprir

se as correntes não prenderem todos os loucos

se faltar chapéu nas cabeças sob o sol

se o grito perder a boiada

se o menino não abrir a porteira

se nada passar por ela nem o vento deste dia

eu apenas mijei tinta sobre o poema

que eu não consegui parir. 

Episódio de um maldito



andando pela cidade o poeta profetiza

ao se deparar com uma mulher

quando se dar conta seus dedos encontram sua calcinha

puxando-a sentencia com convicção:

-serás puta!!

-serás puta!! (02\02\23)

Minha certeza



Deus, o que me assusta é o teu silêncio ou é a tua fala que eu não ouço?
Indago sob a cruz
Arde- me os olhos ante a luz
Descanso- os na escuridão
Vejo como se houvesse clareza
O caminho é longo na brevidade do tempo
Que finda a vida
Deus, do teu silêncio sou conhecedor
A tua fala me assustaria?
Não tenho respostas sob o céu
Sobre a terra
O que eu tenho é o teu silêncio
E a certeza de que tudo morre.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

A uma transeunte

 tua bunda é uma fortuna

vejo-a sob o jeans nesta manhã

tua voz é uma delícia desejando-me bom dia

tua bunda desejo-a desnuda 

vê-la nua é melhor que queijo. 

Mais finito



Na casa do morto
Quem lhe deita o olhar expressa sua dor
Todos ficam de luto na casa do morto
Temos a senha nas mãos a qualquer hora seremos chamados
Pela indesejada das gentes
Na casa do morto a tristeza se avoluma
E tudo fica mais finito.

Tal qual Fênix



Ficou sob as fezes
Deus
Pátria
Família
Ficou sob as fezes
A democracia
A sanidade mental
Um crucifixo quebrado
Tapetes maculados
Ficou sob as fezes
Di Cavalcante
Tudo que prezamos
Tempos difíceis.
Ficou sob as fezes
30% de estupidez
30% de alienação
30% de perversidade
Ficou sob as fezes
O fascismo
A extrema direita
A voz do meu país gigante se ergue
Se refaz tal qual Fênix .