O vento volta
Desfaz-me
O que se foi
Volta e inquieta-me
Do mesmo jeito
Como se nada tivesse mudado
O que mudou mudou-me?
Não tenho certeza
O vento deixou-me novamente
E ficou comigo a convicção
De que tudo é cíclico.
Para Mayara Pontes
vi-lhe
Sei que eras tu
Sua voz chegou-me aos meus ouvidos
E seu sorriso estampou-se nos lábios
vi-lhe
Eras tu
Desejei beijá-la
Porque eras tu
Deste-me as mãos
Osculei-as e fui ao encontro
Da sua face
Porque vi-lhe
E eras tu. (10/09/10)
Dou-lhe minha ereção
Dou-lhe minha nudez sem pudor
Dou-lhe meus movimentos mais precisos
Dou-lhe a maciez do meu corpo
Que será seu leito
Para que acordes com brilho nos olhos
Dou-lhe as fantasias que desejares
Dou-lhe a leveza do tempo
Não o perceberás passar
Dou-lhe o ar que dança entre nós
Dou-lhe entre os lábios os melhores versos
Da minha lavra
Dou-lhe em único cálice o vinho
Da melhor safra
Dou-lhe o que prometo
Para sejas cativa ao meu amor.
Um livro nos uniu
Que não nos separe as páginas amareladas
Um livro nos uniu
Que não nos separe os espirros alérgicos
Um livro nos uniu
Que não nos separe as brochuras
Que se avolumam pela casa
Um livro nos uniu
Que não nos separe os antagonistas
Dessa trama
Um livro nos uniu
Que não separe a solidão
Das personagens dessas histórias
Um livro nos uniu
Que nada nos separe
Amém...
Coma-me morena
Não tenha pena
Submeta-me a qualquer posição
Há de aguentar o coração
Se ele enfartar
Não tenha remorsos
Pois morrerei feliz de tanto lhe amar
E se verá a alegria até nos meus ossos.
A Inocêncio de Melo Filho
As bocas falam o que não querem.
Dos ouvidos presume-se que não ouçam.
Mas o poeta com seus óculos de ver o invisível
Ostenta desavergonhada forma
De contorcer a compreensão de outrem.
Desvirtua a realidade,
Desfaz os grandes feitos
E brinca de maneira que mortal nenhum jamais ousaria.
Não que seja um deus ou demônio malfazejo,
É antes um pequenino que vive eternamente a sua infância.
Manoel Messias
Perdi meu tempo
Mas a vida ainda reina em mim
Orientando caminhos
Que se fazem nas minhas veias
Domadoras da fúria
Do meu sangue. (20/07/10)
Não tenho armas
Mas posso me revoltar
Tenho mãos
Farei os ventos moverem
Os moinhos e a história...
A morte não me quis
Destinou-me aos meus afetos e desafetos
Para que minha sina persista
E a minha luta não se esgote
Entre os mortais. (07/04/10)
Maltratam-me seus olhos verdes
Não me olhes mais
Se não me queres
Deixe-me ir com o vento
Levando na memória os olhos teus. (10/04/10)
Não faça mungangos
Não torça o nariz
O poema não fede
Nem cheira
O que exala fedor
É o papel que o acolheu. (24/05/10)
Eu sou um pobre-diabo
Porque tu não me acolhes
No teu corpo
E nem me queres entre os teus braços
Próximo dos teus lábios.
Esta é a convicção que tenho
E o discurso que faço para mim mesmo
Diante do espelho. (05/08//03)
Os sinos dobraram
Não os escutei
O sono venceu o cansaço
E a minha ida ao templo. (09/05/10)
Para Danyhele
Bocas na mira
O beijo não veio
Nem foi
Ficou o desejo desenhado
Nos meus lábios.(04/05/10)
Eu sou poeta
Funcionário público e pai de família.
Já fui o herói dos meus pimpolhos
mas o enredo se transfigurou.
A nova trama me assusta
Perdi o domínio do texto
e minha voz se perdeu no barulho.
O tempo me diz que é assim mesmo.
Subsistir é o princípio
para que se alcance o final da história. (12/06/10)
O mar não é tema: tema é o ar do mar.
A poesia é didática - luz
sobre a história e esquecidos altares.
Toda estética; toda, puericultura
lagos oceânicos; ilhas, promontórios
as cidades primevas, o sangue dos heróis
tudo fica muito aquém e além de tuas caldeiras.
De tuas membranas, de tuas
álgidas montanhas marinhas
surge o unicórnio dourado
carregado de sonho e solidão.
E sobre as ondas aquece-se; talvez
esquecido do tempo; a que fim
este unicórnio soçobra-se de mim?
Plumas e pratas patas - unicórnio
um e único - mar
oh soberano rei dos sorvedouros!
José Alcides Pinto
Seu homem era belo e forte tinha cabelos
compridos que lhe chegavam aos ombros.
As mãos grossas e macias percorriam-lhe o corpo
e detinha-se nas virilhas latejantes.Tinham o mesmo
calor do sol que irradiava sobre a terra.Fechavam-se
com fúria sobre suas nádegas,como se elas fossem
um fruto a que se pretendesse tirar todo o sumo de
uma só vez.Era o segundo homem que possuíra.O
primeiro foi levado pelas ondas numa noite de tempestade.
(José Alcides Pinto-Diário de Berenice-(p.29)
.
A
José Telles
Estou só no mundo
e não me chamo Raimundo
como Drummond dizia
digo eu: um dia é outro
e o mesmo dia.
E esses dias somados
a troco de vintém:
não servem para mim
nem para ti ninguém.
Não servem para nada
nem pra dar nem vender:
são dias emprestados
a troco de viver.
Mais um dia que passa
sem parar se deter:
nessa doída corrida
sem saber pra quê.
E onde isso vai dá?
O saber que importa:
esteja aberta ou fechada
a porta é a mesma porta
por onde se entra e não sai
tal qual uma sepultura:
como se jogassem fora
a chave e a fechadura.
José Alcides Pinto-O algodão dos teus seios morenos(p.27)
Para José Alcides pinto
O paletó do poeta maldito
Ondeia no ar.
Lúcifer canta pendurado na gravata
e a mulher de preto dança nos bolsos.
Versos se esticam no varal do vento
alcançando o corpo da poesia.
Vozes invisíveis bordam o infinito
a estampa diz que o poeta está vivo.(09/05/10)
Natércia, não conheci seu pai.
Não a conheci também.
O tempo cruel
Prendeu-me entre palavras e metáforas.
Impediu-me de vê-la entre os mortais.
Negou-me o toque das suas mãos
e a memória da sua voz.(03/06/04)
Deste o último suspiro
Mas antes contemplaste os retratos
Fixos na parede
Deste o último suspiro
Mas antes afagaste as últimas palavras
Deste o último suspiro
Mas antes osculaste o soneto preferido
Deste o último suspiro
Mas antes olhaste as linhas das mãos
Deste o último suspiro
E nem te lembraste que um dia
Nossas mãos se conheceram.
Linguagens diversas transitam entre nós.
Elevam-se ao céu em forma de torre.
E agora?Como alcançá-la?
Como domar o idioma que segue o vento?
Não entendo os ecos que me chegam aos ouvidos.
Falas e mais falas se erguem diante de mim,
não querem mais calar.
Lanço meu silêncio no espaço
e me vou convicto do protesto. (10/05/10)
Para Joyce Mesquita
Tecemos laços que não nos prenderam
Estás tão distante
Nem seu vulto posso ver
Busco seu cheiro no ar
Encontro o tempo e o que ainda somos
O tempo passará não duvido
O que ainda somos não se alterará
Caia o que cair sobre a terra
Esta convicção me alimentará a alma
Até que nos vejamos novamente... (06/04/10)
Ontem seu decote me mostrou
Um pouco dos seus seios
Vi-os esmorecidos
Por isso minha senhora
Não se desnude para mim
Quero que dure para sempre
A imagem que tenho de vós
Minha senhora
Não se desnude para mim
Receio que seu corpo
Não seja como imagino
Por isso deixe-me só
Que o encanto persista...
Nós somos todos veados
Apreciadores de cus e de bundas
Tu podes até mudar os acordes
Da lira da verdade
Mas não mudarás a letra da canção
Que gritará nos teus ouvidos
Reiterando o refrão
Que não queres aceitar
Mas a verdade não se dobra
E lhe convence que somos todos veados
Em cima da terra
Debaixo do céu. (Sobral 23/04/09)
Para Michele Bastos
Cansei-me de querer vê-la
Encontrei-a
Nada senti
Pois estava exausto
Do excesso dos desejos.(17/12/06)
Não sei quem és tu
Mas lhe destino o calor da minha voz
Não sei quem és tu
Mas eu desejo completar-me contigo
Não sei quem és tu
Mas eu ficaria sem idioma e sem pátria
Se me pedires
Não sei quem és tu
Mas seu acredito que tenho direito de amar-lhe
Embora não possas corresponder-me
Não sei quem és tu
Mas eu lhe desenho nas linhas dos meus versos
Não sei quem és tu
Mas eu sinto seu cheiro nos meus caminhos
Não sei quem és tu
Mas eu já afaguei suas pegadas
Não sei quem és tu
Mas eu já ouvi sua voz entre meus livros...
Não sei quem és tu
Não sabes quem sou
Mas o amor sabe
E nos acompanha nas nossas jornadas. (20/02/10)
Eu canto e gemo em cima de ti
Se por acaso mudas a posição
Cobrindo-me com o manto do seu corpo
Não me transfiguro
Canto e gemo
Sem disfarçar o orgasmo.
Deixe-me ler a escritura dos seus pés
Enquanto os tenho nas mãos
Preciso conhecer suas histórias
Suas andanças