sábado, 1 de junho de 2019

A mosca do diabo



a mosca sai da panela do diabo
e me encontra lendo poesia
vejo-a melada de sopa
a mosca ronda minha cabeça
expulso-a deslizando os dedos nos meus cabelos
a mosca suja de sopa não desiste de mim
gruda-se no meu livro dileto
fico enfurecido e acerto um lápis nela
a mosca se vai mas a mancha fica
fazendo-me lembrar do episódio.


Charme incerto


A incerteza è charmosa por isso fecho os olhos
E ando por aí sem saber no que esbarro
Nem reconhecer os que me tocam
As trevas é o que eu tenho diante dos olhos
Agarro- me a ela enquanto teço minhas andanças
No charme incerto de nada ver
Nem saber saber entre os mortais .



Devoto



sou devoto da tua nudez
curvo-me a ela
rezo para que tenhas vida longa
e não me abandones nas minhas noites insones
tu me olhas de joelhos e me destinas teu sorriso
ordenando-me a erguer-me porque não és uma santa.


Agora eu sei




agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido
falta pão e sobra mesas no poema
avoluma-se a fome e a miséria nas ruas
nossas mãos viram como se partilha no templo
mas deixaram esse saber cair por terra
e ficaram gordas de ambições
agora de posse dessa certeza
olho as minhas mãos injustas
ergo-as ao infinito para que Tu me ensines a escrever nelas
novas linhas de bondade e de justiça.


O verso inicial é de Francisco Carvalho