vi o travesti sob o céu noturno de pé ereto na esquina como se fosse um poste sendo a metáfora de um falo transeuntes olham-no com estranheza carros vão e vem no tempo que passa o travesti não tem relógio no pulso mas doma o tempo na sua longa espera.
não tenhas medo, ouve: é um poema leva-o no teu coração ou na tua memória aproxima-te de mim eu sou apenas um poeta trago poemas nos bolsos jogo-os no ar como se fossem pombos vejo-os cair no chão da cidade longe dos teus olhos ignorados pelos transeuntes.
Os dois versos que iniciam o poema são de Miguel Torga