quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Por nada entender



vi os algarismos e os ponteiros do meu relógio caindo no chão
gritei pelo meu relojoeiro mas ele está tão longe
o tempo parou mas para quem?
os sinos não estão a dobrar
já é meio dia e esse sonho não me sai da cabeça
leio meu pulso sem o passar do tempo
para quem o tempo parou?
penso nos meus
o enigma persiste
deito - o entre palavras
por nada entender.

Discurso do desejo


eu não quero viver no teu esquecimento
nem no teu lembrar
eu quero é viver no perigo que a vida é
quando constatares que eu não estou mais aqui
é porque fui plantado na terra
que eu vire árvore e tu me reconheças
nas sombras dos meus galhos sobre a terra
ou sobre um andarilho pesado de cansaço. 

Entre as tuas palavras


não sou sacerdote mas osculo a vossa palavra
faço súplicas
ergo - a para o alto como se fosse alcançar o infinito
fecho o livro
mas antes deixo um beijo entre as tuas palavras
volto os olhos para o céu e respiro 
enquanto o vento brinca nas minhas narinas.