sexta-feira, 10 de junho de 2022

No meu coco

o meu coco fica odara
ouvindo o coco do Caetano
no meu coco as vezes tem um mar
as vezes tem apenas sal
lágrimas de Sobral
no meu coco tem poesia
que transita do lado direito para o esquerdo
a inspiração vai e vem
como se fosse o vento
no meu coco tem outros dentro
às vezes há só um saco vazio de vento
com fonemas pulando dentro
no meu coco há dores e delícias
coragem de cangaceiro e fé de um santo
no meu coco não há água de um coco verde
fico odara quando a encontro abundante
no meu bar dileto.




Queixa junina

amei muitas musas
até fiz queixas por mais afetos
o tempo passou
e musa de poeta é página virada
ficou no passado
vago no monte parnaso
por lá só o vento e a solidão se avolumam
e a memória dos vates que me antecederam.

Entre os mortais



vi o sol matinal
meu olhar ficou cheio de luz
luzes coloridas
impedindo-me de ver as distâncias
veio a chuva
foi-se a chuva
ficou o frio
meu nariz entupiu
respiro pela boca
ainda é junho entre os mortais.

Como se fosse

é como se fosse uma guerra

todo dia devorar um leão

e amarrar outro pro dia seguinte

é como se fosse uma guerra

o pão de cada dia

a labuta em falta

falta tudo até afetos

é como se fosse uma guerra

a solidão em todos os lugares

o capital no punho de poucos

e as ruas acolhendo perdedores

é como se fosse uma guerra

não vencemos nunca.


O verso que se repete é de Paulo Leminski