segunda-feira, 1 de maio de 2017

Aquelas pernas




É domingo
Sento-me no Ponto do Café
A moça me vem peço-lhe um capuccino
Pessoas vem e vão
Aquelas pernas são de endoidecer
Elas já se foram mas ainda estão no meu lembrar
Cai-me na memória Vinícius de Moraes
E a sua poesia se revela diante dos meus olhos
É domingo
O capuccino esfriando na mesa
E eu aqui no shopping pensando em uma metáfora
Evocando a poesia
E aquelas pernas já se foram
Levaram meu poema com elas?
Ou ele ficou aqui cá dentro de mim remoendo imagens?
É domingo
Salve-me poetinha estimado
Mulheres vem e vão
Mas aquelas pernas!
Entrego-as à ficção. (02/04/17)


Sempre assim



Tu és tão branquinha
Que tu ficas rosada ao me sorrir
Fazes-me recordar a manga
Que eu chupava na infância
Vem me trazer memórias
De um tempo que passou
Vem cair nos meus olhos
E deitar teu cheiro nas minhas narinas
Porque a noite já vem
E tu vais me deixar só
No meu leito de palavras. (06/04/17)



Poema de uma face

O homem atrás do bigode
Não revela seu sorriso
Exibe asas negras
Ocultando seus dentes brancos
A fala escapa entre os pelos longos
Os fonemas no canto da boca
Vão se esticando no ar
Que revela o homem
Sua pouca linguagem
Atrás do bigode. (12/04/17)

O primeiro verso é de Carlos Drummond de Andrade



No meu lugar



Andei contrito pela cidade
Olhei o céu azul
O sol ardendo na minha pele
Andanças e mais andanças
Uma tristeza me seguia
Veio-me a mente uma das tuas canções
Cantei-a indiferente aos transeuntes
Que me olhavam numa 3x4 de uma fotografia
Que se tecia em suas retinas
Ignorei-os
Deixei a cantiga persistir na tristeza mais longa
Que os caminhos que eu iria percorrer
Meu olhar caiu em um farto bigode ao vento
Imaginei o teu
Olhei-o bem
Destinei-lhe um aceno
Sorri para o homem contrito como eu
Uma metáfora de ti. (01/05/17)