sábado, 8 de outubro de 2022

Sob a minha cruz



Muito cedo eu percebi que era frágil
Vociferei essa descoberta entre os mortais
Negaram-me os ouvidos
Deitaram sobre mim suas indiferenças
Fiz o meu caminho sob a minha cruz
Certo do meu fim e da conclusão do meu calvário
Sob o céu
Sob o sol
Que não clareia minha sombra.  

Sina



Não sou um deus sou apenas um poeta
Se subo o monte nenhuma musa espera por mim
Subo o monte e sofro porque o pão não é partilhado
Uns com muito e muitos sem nada
A liberdade por um triz
O medo domando jovens e velhos
Como não sofrer nesse contexto?
Não sou um deus sou apenas um bicho do mato
Que um dia se descobriu poeta por sofrer demais
As dores do mundo doem em mim
Escrever é o meu jeito de fazer justiça
Falar versos aos ventos
Deixá-los escritos é minha sina
Completa minha existência de mortal. 

Dose poética de fim de mês



copo vazio
cheio de ar
transborda?
copo vazio
transparente
sobre a mesa
do meu bar dileto
copo vazio
cabe nele as minhas ilusões?
o garçom vem a mim
deita o olhar no copo.
leva-o na bandeja
como se fosse a cabeça do profeta.

Dias finitos



a morte sempre me diz algo que eu tinha esquecido
a morte me surpreende e me derruba do décimo terceiro andar
a morte me diz que o que existia não existe mais
a morte umedece os meus olhos e as lágrimas escorrem
no meu rosto envelhecido
a morte faz com que eu colecione memórias
a morte tão cotidiana na rotina dos meus dias finitos
um dia fará silêncio em mim.