terça-feira, 7 de abril de 2009

POSSE

Os sinos dobram para os vivos
Chamando-os à casa do Senhor
É domingo e alguém chorará
No Gugu ou no Faustão
E os prisioneiros das telinhas ou dos telões
Se apossarão das lágrimas alheias.


Inocêncio de Melo Filho

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Profecia

A profecia se cumpriu
Ganho meu sustento com o suor do rosto
Perdi o paraíso
Mas sei quem sou
E com estou...

Inocêncio de Melo Filho

Ímpar

Trinta e três
Fala e respira o tuberculoso
Trinta e três
Fala e respira o aniversariante
Tinta e três é número ímpar.
Fala o numerólogo...

Inocêncio de Melo Filho

Gestação

Guardo na boca palavras para um poema
Que não quer chegar
Se o poema não chegar
Onde despejarei as palavras ansiosas
Que me incomodam os dentes?

Inocêncio de Melo Filho

(In) submisso

Aos doutores das letras do Ceará

Eis me aqui
Com mais uma morte cravada na alma
Sem poder erguer um protesto.
Eis me aqui indefeso
Submisso ao império dos vermes
E dos seus brasões
Definidores da razão
No universo das letras.

Inocêncio de Melo Filho

Costitucional

Tens domicílio inviolável
Tens liberdade de expressão
Não serás torturado
Mas um outro dia vem
E nos revela em plena luz
A outra face da lei...

Inocêncio de Melo Filho

Minha Canção do Exílio

Para o índio Galdino, assassinado em Brasília.

Minha terra tem palmeiras
Ainda canta o sabiá.
Raia o dia ergue-se o poeta.
Alegrias escassas é o que temos cá.

Minha terra tem índios
Escassos como as alegrias.
Chora o açum preto
Chora o sabiá
Chora este poeta do ceará.

Minha terra tem palmeiras
Não gorjeiam, pois são palmeiras.
Aqui, ali e acolá
Alegrias escassas é o que temos cá.

Inocêncio de Melo Filho
(22/04/97)-Sobral-Ce.

Sisifismo

Meu professor de português é um sujeito simples
E composto de decência
Ainda se conduz na sua bicicleta
Identificando objetos diretos e indiretos
Por onde passa
Reconhece-os bem e ergue os verbos
Deixando-os escorrer nas linhas das suas mãos
Transfigurando-os em transitivos
Nos períodos que edifica nas ágeis pedaladas
Que o farão chegar,ele sempre chega
E a flor do Lácio floresce entre nós
Exalando o cheiro inicial da sintaxe
Do tempo dos mortais.

Inocêncio de Melo Filho

Pelo Ralo



É noite no céu de Brasília
Senador desperta risos nos colegas
Lendo letra de rap
A seriedade escorre nos ralos
Do senado
Retardando a chegada da justiça.
Inocêncio de Melo Filho

Revelação

Vejo-me no rosto do meu relógio
Entre números
Submisso às ações do tempo
Que se revelam no meu ser.

Inocêncio de Melo Filho