quando tu vinhas sob o sol matinal
com aquela farda do colégio Sant’Ana
tu eras mais linda do que o cavalo dileto do faraó
tu me abrias um sorriso e eu lhe destinava outro bem maior
eu a queria tanto mas tu a mim nem um pouco.
sigo
uma ilusão de olhos azuis
sua
cintura é bem desenhada
esqueço
lembro
vivo a lembrar e a esquecer
memórias e esquecimentos vão e vem
habitam na minha mente
vejo minha alma com feridas
quando me vem o calvário
quando me pesa a cruz
no vale de lágrimas
da pesada existência.
olho a vossa face de mãe e rainha
na imagem sobre a mesa onde faço poemas
e vos peço leveza do fardo que me entorta
desde que eu nasci.
aprendi espiando teu corpo nu por trás das cortinas transparentes
aprendi espiando letras penduradas no varal sendo cantadas pelos poetas
aprendi espiando o nascimento do sol em cada manhã
aprendi espiando o sol que ficou nos meus olhos
para que eu o levasse pelas estradas escuras do meu viver
aprendi espiando as linhas tortas das tuas mãos
aprendi espiando a tua poesia nas páginas dos livros
aprendi espiando os teus rastros textos longos
que tu deixavas para trás
aprendi espiando como se fosse um pavão misterioso
aprendi espiando a minha juventude que se foi
aprendi espiando as trevas com a luz dos olhos meus
aprendi espiando as dezenas do meu terço matinal
aprendi espiando e muito eu quero olhar
até minha última respiração.
Para minha irmã Liduina Melo dos santos - In Memorian
do nascer ao pôr do sol
A poesia está no teu corpo branco
Permita-se doer de dor bonita