quarta-feira, 4 de maio de 2022

Nascedouro I



Eu tenho um poema na garganta
Que não se faz fala
Eu tenho um poema no desejo
Que não se realiza
Eu tenho um poema no silêncio
Que se nega ao barulho
Eu tenho um poema no olhar
Que não se deita no papel
Eu tenho um poema no fim do abismo
Quem irá lá buscá-lo?
Eu tenho um poema sujo
Que teme fazer alardes
Eu tenho um poema em gestação
Na minha solidão ele se encorpa
Eu tenho um poema que não chegará
No tempo previsto
Eu tenho um poema no bolso do jeans
Bolso raso
Poema profundo?
Finda o dia e eu tenho um poema
Que de mim não sai.

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