terça-feira, 1 de março de 2016

Eu sou uma lenda
















Eu sou uma lenda disse isso hoje
Aos transeuntes da minha cidade
Eu sou uma lenda gritei aos ventos
Enquanto andava pelas tuas ruas
Oh princesa do norte!
Eu sou uma lenda
Não li isso em nenhuma profecia
Não há profecias sobre mim
O que há são convicções de um poeta
Que um dia serão lidas e escutadas
Porque o vento não as repetirá
Aos ouvidos desatentos. (20/12/15)




Pelo mundo








Já não há mãos dadas pelo mundo
Há indiferença
A distância se tece em tudo
Abro a janela e olho a rua
Tudo deserto,solidão em tudo
Sinto saudade da minha mão na tua
Por onde ficou nossas andanças?
Onde encontro nossas conversas?
Concluo minhas indagações
E me vejo ao teu lado
Estás sozinha
Estou sozinho
Nossas mãos não se alcançam mais
Nossos corpos planejam desencontros
Porque agora tudo se entrega à solidão. (15/02/16)


O primeiro verso é de Carlos Drummond de Andrade




Quase oração








Não pertenço a tua trindade
Sabes que sou pecador
Por isso me deixe cair em tentação
Por isso me deixe seguir devotamente
As belezas que me caem nos olhos
Deixe-me seduzir ou ser seduzido
Poupe-me a dor da indiferença
Porque a solidão não me pesa nos ombros
O que me curva é o peso do tempo
E o teu olhar fingindo que eu não existo . (17/02/16)




Isso ou aquilo







os ombros do poeta suportam o mundo
os ombros do poeta suportam a mulher exibida
os ombros do poeta suportam Itabira,seu ferro e seu aço
os ombros do poeta suportam o sol
os ombros do poeta suportam as fúrias do vento
os ombros do poeta suportam a inquietude do mar
os ombros do poeta suportam a cidade do Rio de Janeiro
os ombros do poeta suportam o tempo
os ombros do poeta suportam as leis da gravidade
os ombros do poeta suportam seus dias de pedra
numa urbe de muitas dores e muitos desamores. (26/02/16)




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Acontecimento








Vais embora sem dar-me um sinal
Nem um aceno quando estiveres distante
Cairei no teu esquecimento
Eu que fique a lembrar como cruzavas as pernas
Pondo em evidência a tua coxa com teu sinal
Feito tatuagem sobre tua pele
Na qual mirava meu olhar
Acumulando memórias tuas nas minhas retinas.(15/12/15)








Voltei a sonhar
















Voltei ao sonho meu amor
Mas tu és impossível
Voltei a voz de Chico Buarque
E a cidade cá embaixo se estica
Além do meu olhar
Canto e essa voz não é minha
Ouço Chico rindo com minha voz
E a canção?
Ainda sonho e tu estás nas tuas distâncias
O que cantei ficou no ar
Um passarinho canta o que cantei
O disco findou
Agora o silêncio caminha pelo meu sonho
Seus rastros alcançam meus ouvidos
Acordo com fonemas no canto da boca.(04/01/16)


Tuas mãos







Para Melissa Paiva


minha musa é branca
seus cabelos vão ruivando o dia
e a leveza das suas mãos
e os seus dedos longos e finos
ficaram na minha memória
ficaram nas linhas das minhas mãos
tão pesadas de tantos sofreres
tão desprovidas das delicadezas
que se foram com as suas mãos. (14/01/16)









Ao saudoso poeta José Alcides Pinto








Foste embora sozinho naquela manhã
Não levaste a pequena varredora
Nem a mulher de preto que me mostravas nos teus escritos
Teu paletó branco onde andará?
Não o vejo no cabide
Não o vejo entregue às vadiações do vento
Quando lhe indago se te verei novamente
Ele ri nos meus ouvidos e me responde:
-nunca mais. (21/01/16)


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Tantas senhoritas







Encontro pela vida tantas senhoritas
Todas lindas de endoidecer
Penso até no que não presta mas é bom
Umas me querem como pai
Outras aceitam o poeta que há em mim
E outras tantas não querem nada
Nem a poesia que lhes destino. (16/12/15)


Paraíso do consumo








Ando pelo shopping consumindo e sendo consumido
Minhas sacolas de desejos pesam
Dói- me os ombros
As pernas estão exaustas
Sento-me
Descanso-me junto as sacolas
Mulheres belas ou não desfilam próximas a mim
Sondando nas suas almas e nas vitrines suas vontades
Propondo realizá-las
E o tempo passa entre minhas sacolas
Não o sinto passar pois estou a rir de duas mulheres
Que afagam o pomo- de- adão de um jovem
Não estou a rir das carícias pois as desejo também
Rio do rapaz exibindo sua saliente laringe
Às mão afetuosas das Evas do paraíso do consumo. (25/12/15)

Tuas palavras





São as tuas palavras na minha boca*
Nos meus versos
Na minha poesia
São os teus rastros no meu caminhar
Tua sina na minha
Tua voz nos meus ouvidos
E a palavra se transfigura entre nós
Fazendo-se nova
Buscando outros rumos
Que desconhecemos. (08/11/13)



Verso inicial de Pablo Neruda *

Desejo







Quero comer teu pé como uma intacta amêndoa*
Tenho-o nas mãos
Meus lábios dançam sobre ele
Minhas narinas se deslizam
Na pele deliciosa do teu pé
Que mantenho próximo à boca
Decidida dos seus desejos. (24/10/13)

*verso inicial de Pablo Neruda