terça-feira, 7 de outubro de 2025

De uma memória Juvenil

 


quando tu vinhas sob o sol matinal

com aquela farda do colégio Sant’Ana

tu eras mais linda do que o cavalo dileto do faraó

tu me abrias um sorriso e eu lhe destinava outro bem maior

eu a queria tanto mas tu a mim nem um pouco.  

Por um instante

 

sigo uma ilusão de olhos azuis

sua cintura é bem desenhada

revelando a bela imagem das suas ancas

suas pernas firmes vão a minha frente

consola-me segui-la pois ainda sou jovem

tenho todo o tempo do mundo

nas linhas das minhas mãos

e ainda não temo a morte

com ela tudo é incerto

mas eu a quero mesmo assim

nem que seja por um instante.

 

 

O que me resta

 


as vezes só me resta um gemido

as vezes só me resta o teu olhar

as vezes só me resta um aceno de um desconhecido

as vezes só me resta uma punheta

as vezes só me resta escolher uma estrela solitária

assim como eu no imenso céu

as vezes só me resta a memória da tua nudez

as vezes só me resta um sonho picante da noite passada

as vezes só me resta a tua bunda que tu me exibes no instagram

as vezes só me resta uma folha em branco na qual se desliza

uma esferográfica buscando um poema e nada mais. 

 

 

 

 

 

sábado, 13 de setembro de 2025

De um sopro de Djavan



o sol dobra a esquina, baby…
estas reticências omitem a continuidade do verso?
estas reticências calam a voz para que o silêncio fale?
estas reticências se deixam dizer ou se calam?
baby a esquina não é uma linha reta
e só eu sei quantas conheci sob o sol. 

Clamare



sirvo-te desde minha juventude, oh inspiração!!
vinde a mim, os meus leitores estão a cobra-me poemas
tenho dito a eles que tu me abandonaste
deitei nos versos o que me davas
segui teus comandos, silêncios e fúrias
vinde a mim, oh inspiração!!
transformai em poesia a borboleta transparente
que prendia o cabelo de uma dama que eu vi distante
e ainda está na minha memória
vinde inspiração, vinde!!

No olhar matinal do poeta que amanhecia o novo dia



nesta manhã de 7 de setembro de 2025
o sol amanheceu com cara de lua cheia
vi a lua sobre o sol
sol e lua bem fundidos
tal qual a+a gerando crase
vi a lua cobrindo o sol
a lua e o sol numa foda intensa
vi-os nas alturas celestiais
e eu amanhecia na longa estrada
sobre uma bicicleta. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Poema pra rezar



quando me negarem a justiça justa
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando em minha casa não me reconhecerem e eu precise dormir na rua
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando o médico me negar atendimento desdenhando do meu plano de saúde
fazei me-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando arrancarem as sementes por mim semeadas nas mentes juvenis
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando me destinarem calúnias fazendo-me chorar
fazei me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando se apossarem da minha mesa farta e nada me restar para saciar a fome
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando me levarem as vestes deixando exposta minha nudez
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando rirem do meu sermão nas ruas da cidade
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando roubarem minha bicicleta e eu precise andar longas distâncias
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando me deixarem sem as sandálias fazendo-me ferir os pés
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
quando a irmã morte levar aqueles que eu mais amo
fazei-me recordar a perfeita alegria, são Francisco de Assis
e embora eu não cante que eu fique em paz.

Desde que eu nasci

 esqueço

lembro

vivo a lembrar e a esquecer

memórias e esquecimentos vão e vem

habitam na minha mente

vejo minha alma com feridas

quando me vem o calvário

quando me pesa a cruz

no vale de lágrimas

da pesada existência.

olho a vossa face de mãe e rainha

na imagem sobre a mesa onde faço poemas

e vos peço leveza  do fardo que me entorta

desde que eu nasci. 

De uma das linhas de Ferreira Lima

 aprendi espiando teu corpo nu por trás das cortinas transparentes

aprendi espiando letras penduradas no varal sendo cantadas pelos poetas

aprendi espiando o nascimento do sol em cada manhã

aprendi espiando o sol que ficou nos meus olhos

para que eu o levasse pelas estradas escuras do meu viver

aprendi espiando as linhas tortas das tuas mãos

aprendi espiando a tua poesia nas páginas dos livros

aprendi espiando os teus rastros textos longos

que tu deixavas para trás

aprendi espiando como se fosse um pavão misterioso

aprendi espiando a minha juventude que se foi

aprendi espiando as trevas com a luz dos olhos meus

aprendi espiando as dezenas do meu terço matinal

aprendi espiando e muito eu quero olhar

até minha última respiração. 

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Da lua cheia II



sob a lua cheia
o poeta anda com o peso da existência nos ombros
sob a lua cheia
o poeta chora porque a dor se fez adaga afiada
e perfura-lhe sem piedade
sob a lua cheia
o poeta ergue os braços buscando acolhida de um abraço
sob a lua cheia
o poeta desenha andanças no chão da sua aldeia
e percebe que a lua anda pelo céu da cidade
sob a lua cheia
lua andarilha, poeta andarilho
sob a lua cheia
o poeta encontra outra lua de carne e osso
bailarina da princesa do norte
sob a lua cheia
o poeta canta uma canção e adormece.

Da lua cheia I



sob a lua
minha alegria deseja um poema
falta-me um conhaque
faltam-me palavras
falta-me perder o juízo
transbordo encantos
sob a lua
vou-me pela rua
alcanço as trevas e a luz lunar
brilha nos meus olhos
sob a lua
o poema nasce em mim
cheio de luz
da lua cheia. 

Dos instantes

 Para minha irmã Liduina Melo dos santos - In Memorian

contigo fiz profecias
só coisas boas iriam acontecer
contigo cantei
como se rezasse uma oração
contigo vivi infâncias
e nos agarramos nas caudas das lendas
que nos deixaram sob o arco íris
contigo alcancei minha juventude e velhice
num tempo veloz que faz tudo ser por um triz
contigo bebi da tua alegria
que me trouxe música e dança
sem ti ficarei sem nenhum verso
bem menos poeta
sem ti
eu morro de saudades. (16\06\25)