domingo, 1 de dezembro de 2013

Versos para José Alcides Pinto




Acordei com versos na memória para ti
Não os esqueci
Sei que não estás mais aqui
Mas eles são seus
Vão se acomodando no baú da saudade
Guardador de valiosas lembranças. (16/12/12)



Ideologia



Sofrer
Gozar
Gozar
Sofrer
Em suma
Em sumo
Dor e prazer
Prazer e dor
Pra qualquer mortal
Filho da puta
Ou filho da santa
Neste viés
Não há exclusão (28/11/12)




Se





Ponho os olhos em ti
E me deparo com sua indiferença
Que me tortura
Se me olhasses e me desses um sorriso
Eu me daria por satisfeito. (28/09/12)





Desejo




Estou sentado no banco da praça
Querendo paz
Apenas paz
Seu colo nem desejo
Escorrer entre suas pernas
Nem pensar
Repousar a cabeça no seu peito
Até que seria bom
Mas eu quero é paz
Que não está em ti
Nem em mim
Por isso me deixe aqui
Com esse desejo de ficar só. (14/09/12)



O que me prende aqui?




Portas e janelas estão abertas
Posso fugir
Não consigo passar por elas
O que me prende aqui
Se meus pés não estão presos a este solo?
O que me prende aqui se não me queres mais?
O que me prende aqui se rasgaste os versos que te dei?
O que me prende aqui se portas e janelas me mandam ir embora?
Tento edificar outra indagação
Mas me vem a voz do vento e me silencia
Aquieto-me com meus escritos rasgados e me vou
Com o vento que não me deixa mais falar. (11/08/12)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Seu corpo























Seu corpo é uma hóstia fina, mínima e leve*
Guardo-o no meu sacrário de memórias
para que dele meu espírito se alimente
quando não estiveres mais aqui
O vento não o levará
nem o tempo com sua passagem
nem a lei com seus domínios
porque estás entranhada em mim
porque és o bem que terei
até o meu último suspiro... (31/10/13)

Verso inicial de Pablo Neruda *





Retrato




















Venha molhada
Fria
Com esses peixes que trazes
Nas mãos
Oh mulher que desconheço!
Oh mulher implícita!
Que escapou do dilúvio
Escaparás de mim se desejares
Venha molhada
Fria
Não podes vir de outra forma
Abandona essa moldura
Para que sigamos as mesmas andanças
(Re) começando um novo mundo
Onde a vida reinará ao lado da esperança. (23/09/13)





Cotidiano II




Ando pelas ruas
Pessoas, carros, passam por mim
Olho-os
Deixo meu olhar nos olhos
De algumas mulheres.
Não sei se ele ficará nas suas memórias
Sei que dobro a esquina
Outros carros
Outras pessoas
Passam por mim
E me levam
Nas suas retinas exaustas
Eu não me esquecerei dessas coisas
Pois sei que fiquei me avolumando
Nos alforjes dos sentimentos
Que ainda subsistem
Em alguns mortais... (25/04/13)


Profecia



Sou poeta
E um dia serei lido nas universidades
Chamarei a atenção dos críticos
Que dirão coisas que eu não disse
Até verão coisas que eu não vi
Minha poesia em fartas brochuras
Se  equilibrará nas estantes das diversas bibliotecas
Que se avolumarão no meu país
Atraindo mãos juvenis
Sedentas do meu estro. (25/02/13)

                                                                      

Xadrezando






Tiro da aqui
Boto ali
Os peões em ação unem-se aos cavalos
O rei e a rainha sempre imunes
Os bispos e as torres se curvam
Eu desejo a rainha
Boto aqui
Boto acolá
Ela se esquiva
Ignoro o rei
Os peões se armam
Unem-se aos cavalos contra mim
Os bispos me destinam ao fogo do inferno
Boto aqui
Boto acolá
Penetro a multidão
A multidão grita
A rainha grita:
-Adorável cafajeste... (29/01/13)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Temática




A matéria ocupa lugar no espaço
Incomoda
Pesa
Transita no caos
Dos mortais
Fica exausta
Entre nós
Rende-se à lei da gravidade
E se despenca no ar
Até desocupar o espaço
Que julgava possuir. (22/09/13)

Rival















Para Joyce Mesquita

Falaste-me  mais nada entendi
Porque o vento enciumado
Levou sua fala para longe de mim
Fiquei a olhar-te guardando na memória
O que li nos seus lábios. (20/12/12)



Desejo













Estou sentado no banco da praça
Querendo paz
Apenas paz
Seu colo nem desejo
Escorrer entre suas pernas
Nem pensar
Repousar a cabeça no seu peito
Até que seria bom
Mas eu quero é paz
Que não está em ti
Nem em mim
Por isso me deixe aqui
Com esse desejo de ficar só. (14/09/12)


Meu refrão




Eu amo porque amo
Fiz desse termo meu refrão dileto
Já o sabes de cor
E o vento persiste em reiterá-lo
Nos seus ouvidos. (17/08/12)

O que me prende aqui?





Portas e janelas estão abertas
Posso fugir
Não consigo passar por elas
O que me prende aqui
Se meus pés não estão presos a este solo?
O que me prende aqui se não me queres mais?
O que me prende aqui se rasgaste os versos que te dei?
O que me prende aqui se portas e janelas me mandam ir embora?
Tento edificar outra indagação
Mas me vem a voz do vento e me silencia
Aquieto-me com meus escritos rasgados e me vou
Com o vento que não me deixa mais falar. (11/08/12)

domingo, 1 de setembro de 2013

Apelo



Não irei contigo
Porque me deixarás em qualquer lugar
E irás gemer com outros homens
Em outras camas
Deixe-me só
Com as memórias dos seus gemidos
Que ficarão se reiterando
Nos meus ouvidos    
Até o fim dos meus dias. (16/09/12)




Momento













Não dura maia esse afeto
Não dura mais esse momento
Não dura mais essa memória
Não dura mais esse amor
Não dura mais esse orgasmo...
Tudo perece
E o fim dessas coisas nem incomodam
Pois logo se refazem
Preenchendo as lacunas. (03/08/12) 

Onde estou





Estou entre palavras impressas em vários volumes
Silenciosas ou furiosas em suas páginas
Submissas às ações do tempo
Leio-as amareladas
Afago-as e guardo nas narinas
Seus cheiros primitivos. (17/07/12)

Andarilho


Quando eu voltar não chore sobre os meus pés
Nem enxugue- os com os cabelos
Porque não me demorarei
Deixe-me apenas andar pela casa
Rever o verdor dos seus olhos
E acumular mais saudades no meu coração
Para que eu repleto de ti retorne aos caminhos
Que não cessam de chamar por mim. (27/06/12)



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

(In)certeza



Quem dorme?
Quem vela?
Quem segura a vela?
Quem faz a oração?
Quem  apalpa o coração
De Inês antes de fechar a porta?
Inês está viva ou morta?
Nada ouço
Quem me tira do calabouço?
De cá percebo um alvoroço
O que acontece por lá?
Quem virá me contar?
Inês está viva ou morta?
Ouço vozes
Vozes de costureiras
Conheço a cantiga
Inês está viva ou morta?
Quem dorme?
Quem vela?
Quem virá me salvar?
Quem salvará Inês?
Quem porá fim a este alvoroço?
Salvem Inês e a mim do calabouço
Que não me importo se a manga não tiver caroço. (19/09/12)



Costura




Corpo vivo
Roupa morta
Canta a voz rouca da costureira
Agulha e linha seguem a cantiga
Abrindo trilhas no tecido
Haja linha
Para tanto pano
Agulha e linha
No mesmo corpo
Que se inquieta
Haja demora
Haja linha
Para uma cantiga que se repete
Num corpo vivo
Vestido por uma roupa morta... (09/02/13)



Foi apenas um sonho



Foi apenas um sonho
Foi só uma vez
Ficou insistindo em minha memória
Se fazendo real
Os seus  seio pequenos
Se avermelhando na minha boca
Que não esquece
Que foi apenas um sonho
De uma única vez. (07/05/13)




Olhada


Ela pós os olhos em mim
E se foi
Se me levou nas suas retinas
Não sei
Saberei?
Só sei que ela pós os olhos em mim
O vento veio e agitou  seus cabelos
Ergueu-se seu braço e sua mão aquietou-os
Enquanto se distanciava de mim. (22/05/13)


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Lídimo



Para Leonilia Pessoa

Sinto saudade da sua voz
Que subsiste em mim
Chamando-me  de poeta
Legitimando o que eu sou
Entre os mortais
Indiferentes a minha sina
Que se cumpre como se fosse
Uma profecia. (14/10/11)



Quando tenho asas




Para Rebeca Sales Viana

Quando tenho asas
Me reconheces
Quando tenho asas
Vens a mim
Quando tenho asas
Queres voar comigo
Quando tenho asas
Falas que sou seu homem
Quando tenho asas
Alcanço seus infinitos
Quando tenho asas
Me exibes sua tatuagem dileta
Quando tenho asas
Nada te veste
Só os tecidos dos meus desejos. (02/07/11)



Ausência





Não consigo dormir
Sinto falta das suas costelas
Misturando-se às minhas
Nas noites insones
Que não me abandonam
Onde estás agora?
Indago a mim mesmo
Nesta cama larga
Convicto do tempo que passa
E do sono que não chega.





Ser entre nós


Qual o papel do papel?
Guardar palavras inconfessáveis?
Registrar  nossos lamentos?
Dar voz ao que se registra?
Documentar o que não se digitaliza?
Abarrotar lixeiras?
Deixar-se levar pelo vento?
Esbarrar em nossas mãos?
Amontoar-se nas sarjetas?
Afinal, qual o papel do papel?
Ser papel entre nós.




domingo, 2 de junho de 2013

Eu te comia com os olhos




Eu te comia com os olhos
Enquanto me exibias a nuca
Arrumando o penteado
Eu te comia com os olhos
Quando me mostravas as costas
Eu te comia com os olhos
Quando esbarraste os  olhos em mim
E  me mandaste seguir outro destino
Eu te comia com os olhos
Quando sua voz me chegou aos ouvidos
Sentenciando minha partida
Eu te comia com os olhos
Quando o tempo chegou
Para passar comigo
Eu te comia com os olhos
Indo embora como era do seu desejo. (10/05/13)




Quando vejo Frida Kahlo




Para Mayara Pontes

Quando vejo Frida Kahlo
Penso em ti
Me calo
E no silencio edifico palavras
Que se esticam em versos
Seguindo o vento
Seguindo a memória do seu cheiro
Para te encontrar
Para que lembres que ainda existo
E ainda sou seu poeta. (29/04/13)


Rego III




















Seu rego me aponta um caminho
Onde ele vai dar?
Apenas meu falo poderá responder
Se for por lá
E retornar com condições
De dizer alguma coisa. (25/04/13)



Nada mais





Eu quero morrer poeta
Contigo em minha memória
Eu quero morrer orando os meus poemas
Eu quero morrer quieto entre os meus versos
Ao lado dos meus livros
Eu quero morrer só
Como tudo que nasce
E nada mais... (17/04/13)



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Aviso






Espere-me morrer
Para que possas festejar
Bater nas latas
Cantar
Dançar...
Não me importarei
Mas antes
Espere-me morrer... (23/04/13)


Hora do almoço




É hora do almoço
Habito a mesa solitária
Não há mais gritos nem comandos
A mesa farta não faz mais sentido
Todos se espalham pela casa com suas farturas
Na hora do almoço
E a mesa larga que fique na cozinha
Com suas memórias
De tempos que não voltam mais. (09/0912)

Um corpo que cai






Um corpo que cai
Corpo de mulher
Corpo branco desconhecido
Uma navalha afiada desce do céu
Desenha no corpo branco que desconheço
Flores pálidas que se avermelham
Diante dos meus olhos
Um corpo que cai
Do céu?
Do décimo quinto andar?
Um corpo que cai
Vejo-o
Choro sobre ele
Desboto as flores desenhadas
E me vou pela rua deserta. (28/07/12)

Espera















Vejo sua barriga crescendo perseguindo o tempo
Que lhe faz esperar
Vejo seu ventre tecendo outra pessoa
Em boa linhagem
Vejo seus pés desenhando sombras
Nos caminhos por onde passas
Sigo-lhe tentando decifrá-las
Imagino seus pés nas minhas mãos
Imagino-me lavando-os
Para que sigas em paz
Levando apenas o peso da sua gestação. (17/03/13)


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Lembrança




Lembro-me de ti quando os sinos dobram.
Lembro-me que os dobrava chamando os mortais ao templo.
Lembro-me que me acordavas com sua voz
Chamando-me através dos sinos.
Os sinos dobram
Onde estás agora?
Vejo-o todos os dias mas não estás aqui.
Falas-me que não crês mais em Deus
Ficaste ateu, atoa
E nós filhos de Eva ficamos sem o seu jeito peculiar
De nos chamar nas tardes dominicais
Ao encontro do Pai. (19/06/12)



Fiquei a olhar-te



Corrias
Fiquei a olhar-te
Viste-me
Corrias e nada entendias
Fiquei a olhar-te
E tu corrias
Sem nada entender (24/09/12)


Partida



 


Que chegue a hora
Que se esgote o tempo
Que se diga adeus
Sem ósculos, sem  abraços
Não posso perder tempo
Preciso mesmo é partir sem memórias
Sem desejos de voltar. (09/12/12)




Praxe













Para Mayara Pontes


Sua mão se foi
E meus lábios beijaram o ar
Que te seguiu
Para que meu ósculo matinal
Ficasse em sua mão
Como de praxe. (20/02/13)


sábado, 2 de março de 2013

Leitura












Esses pés já trilharam tantos caminhos
Desconheço-os
Finquei meu olhar nesse pé descalço
Deitei meu pulso esquerdo sobre suas veias
E fiquei lendo seus enigmas. (22/10/12)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Promessa




Eu vim para este mundo carregando várias cruzes
Carregarei mais uma se me trouxer a promessa
De que um dia andarei erguido
Carregando nos ombros apenas a memória
Das cruzes que suportei. (06/02/13)

Pra travar língua




A papa queimou a papada do papa
O papa lambeu a papa da papada
O papa mal papou a papa
Gritou exausto do papado
Chutou o papeiro
A colher jogou longe
E se foi com seus fantasmas... (11/02/13)


Metáfora




Imagino-te na minha ceia
Imagino-te na minha cama
Oh! lua cheia!
Metáfora da bolacha fogosa
Que me saciava na infância. (27/12/12)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Lamento




Vejo-te sorrindo ao lado de outro
O sorriso que dás a ele agora
Deste-me muitas vezes
Olhei-te sem invejas
Fui-me lamentando por ele (25/08/12)

Momentos




Não dura maia esse afeto
Não dura mais esse momento
Não dura mais essa memória
Não dura mais esse amor
Não dura mais esse orgasmo...
Tudo perece
E o fim dessas coisas nem incomodam
Pois logo se refazem
Preenchendo as lacunas. (03/08/12)

Enquanto espero na fila




Enquanto espero na fila
Penso em Byron
Enquanto espero na fila
O tempo passa
Escovo palavras para um poema
Que não chega
Enquanto espero na fila
As coisas que nasceram morrem
E Byron ainda tem razão
Enquanto espero na fila
A poesia de Byron me inquieta entre os mortais
Que se destinam à morte
Alheios aos meus pensamentos. (02/08/12)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Constatação natalina




Cantamos no templo
Para que Jesus durma em paz
Mas Jesus não dorme
Mas Jesus não tem paz
Nem leito
Está faminto
Perambula pelas ruas
Sem uma pedra para repousar a cabeça    
Nossa cantiga não adormece o filho de Deus
Nem os filhos dos homens. (25/12/12)