sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Reino



Meu reino não é grande

Meu cetro é pequeno

Mas tu podes conduzi-lo

Pelos destinos do teu corpo

E gemer de amor

Sobre mim. (21/11/09)

Visita



Minha bela putana

Eu ainda sonho

As poluções me visitam intensamente

Trazendo-lhe para mim

Sem nenhum pudor

Acordo com o novo dia

Abro a janela

Tu atravessas a rua

E nem sabes que fomos amantes.(25/08/09)

Teu Beijo


O gosto do teu beijo

Sobrevive na memória dos meus lábios

O tempo passará

Não serás mais a mesma

Eu também não escaparei

Às metamorfoses da existência

Mas a lembrança do teu beijo

Permanecerá inalterada.(12/11/04)

Desejo


Quero que rosas vermelhas

Durmam entre os seus seios

Quero que minha poesia

Acorde no cio

E corra no teu corpo

Feito água do rio

Quero uma rima rara

Que ela se incorpore

No meu desejo

No meu beijo

Que ela fique louca

E salte dos meus olhos

Para que eu veja seu sorriso

Sorriso de mulher guerreira. (14/04/91)

PROMESSA


Para Preta

Eu te contemplo

no templo.

No fundo de um espelho

és tão mulher

com esses cabelos soltos.

Despe essa blusa

desnudarei o resto.

Num gesto

faremos de tudo.

Depois ficaremos mudos

para o dia não vir.

Se ele vier

farei seu café. (16/05/91)

Estátua Parnasiana



Para Telma Dourado

Juro

Juro que te vi nua

Num jardim de burguês

Juro que eras tu

Toda nua

Estátua parnasiana

Juro que foi na hora do almoço

Eu, proletário faminto

Caminhava para casa

Estavas nua

Eras tu minha musa

O encanto do jardim burguês.(30/05/91)

Convite




A lua está sobre mim

Não me pesa os ombros

Não enche meu quarto

Cabe na minha cama

Dois cálices de conhaque nos aguarda

Vem, deitar comigo

Desejo sondar suas andanças

tocar suas rochas

e perder-me nos seus enigmas.(13/08/09)

Atos


Deitei seu corpo nu

Na calçada suja de batom

Cobri-lhe com meu corpo

Todos os atos se consumaram

Ficamos exaustos

O sono veio

Nós o acolhemos debaixo da lua.(23/12/06)

Anunciação

Para Jamaica Pinto

Meu olhar escorre no teu corpo

Aquietou-se no teu umbigo

Para contemplar a tua calcinha bege

Que se anuncia por baixo da bermuda.(14/08/1996)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Retrato

Meus cabelos ao vento

Quase todos brancos

Acenam,

Refazem gestos

Rendem-se à pressa

Da minha sombra...

Do tempo que passa

Ainda é tempo de nos olharmos

Ainda é tempo de caminharmos juntos

Ainda é tempo de fazermos as mesmas pegadas

Nos mesmos caminhos

Ainda é tempo de lermos poesia

Sentados no alpendre aguardando o sol

Ainda é tempo de nos tornarmos deuses

Ainda é tempo de sermos eternos

Num tempo veloz e breve...

Divórcio

Deus une

O homem separa

O homem une

Deus separa?

A morte separa!

Une os seres em algum lugar?

Prenúncio

O que eu não disse,

Que não fique por dizer.

A poeira que deixei no teu corpo

Partirá no próximo vendaval...

Os poemas que te dei

Seguirão o mesmo destino.

Bailarão no céu

Sugarão a lua

A treva absoluta

Extinguirá o que fomos....

De Catulo e o tempo

Houve um tempo em que Catulo e o tempo

Não existiam.

Os pássaros tinham pulsos

E sonhavam como os homens.

Os lírios do campo contemplavam os pulsos

Dos homens, dos pássaros

Que pulsavam velozes,

Desatando caminhos....

Adevertência

Se roubarem as flores do meu jardim

Se devorarem o rebanho do meu primogênito

Se beberem toda água do meu riacho

Se queimarem todos os meus versos

Se profanarem a terra dos meus ancestrais

Se semearem joio entre o nosso trigo

Se comerem o nosso pão

Se levarem os nossos mitos

Se levarem minha pedra de estimação

Irei ao encontro deles com a minha espada

Sedenta de sangue

E faminta de carne ...

O FILHO PRÓDIGO

(Publicado na revista mundo jovem em 1992)

O poema que eu não fiz

Que ninguém o faça

Que ele se refaça

Nos seios esqueléticos

Das mudanas que eu não conheci...

Que ele sangre das pedras

E se transforme em pães

Para alimentar os filhos

Os filhos que eu não fiz

Que ele grite nas capoeiras

Que ele dance ciranda

Que ele pule nas praças

Que ele fecunde os ventres

Todos os ventres sedentos

E faça com que nas madrugadas

Surjam choros inéditos

Novas crianças

O poema que eu não fiz

Que ninguém o faça

Que ele se refaça

No seu silêncio...

Lúdico

O rato que roeu a corda

Foi o mesmo que roeu a roupa do rei.

O que roeu o pezinho da princesa

Eu não sei

Ninguém sabe.

Todos os ratos morrerão

Por ordem do rei....

Ofício

Perco-me entre palavras

E sílabas inquietas.

Quando volto a mim

Sinto-me abatido.

Tu me chamas, fecho o livro,

Nego-te os ouvidos...

Sólio

Este trono de merda é só meu

Trono fétido por natureza,

Se é que tem natureza o objeto de sua constituição...

É nele que faço minhas leituras

É nele que busco palavras

É nele que busco poemas

É nele que cago e mijo.

Este trono de merda é só meu

Não o divido com ninguém

Comprei-o com meu próprio dinheiro

Finquei-o a terra usando minhas forças

Trono plebeu!

Trono fétido!

Trono verde indivisível...

Defesa

Eu sou inofensivo, senhores,

Trago enigmas fatigados nas mãos

E fartos cabelos brancos na cabeça.

Minhas pálpebras estão exaustas

E o meu olhar nega-se a contemplar

Esse mundo caduco.

Este céu que nos cobre causa-me tédio.

Mas ainda há palavras em minha boca, posso feri-los

Posso jogá-las no vácuo ou aprisioná-las

Entre as unhas.

Senhores, sou inofensivo,

Verbalizar sentimentos não significa

Um ataque,

Concretiza o medo que se faz defesa.

Insulto

Que fique na tua boca

O meu hálito fétido

Como resposta

Aos teus insultos ....

domingo, 4 de outubro de 2009

Notícia do JN


Antonio Olinto morreu.

Eu não o conhecia .

A morte fez-me conhecê-lo.

Por que não o conheci em vida?

Indago aos mortais.

Cabia a mim saber de sua existência,

afirmo ao meu ser.

Que mídia falhou em sua missão de informar?

Andei desatento e não a ouvi

gritar-me nos ouvidos?

Como pode um escritor viver 90 anos

sem que eu o perceba?

Indago,sim indago

pois sou um homem de letras

e ordeno que a angústia impere em mim.

Parceiros


Meu pai e seu chapéu são dois parceiros,

quase que inseparáveis.

Quando um descansa na rede

e o outro no cabide,

nota-se a recíproca dor

patrocinada pela saudade.

sábado, 3 de outubro de 2009

Súplica


Liberte-me da servidão que lhe dedico

Minha poesia precisa seguir seu destino,

Descobrir novos corpos, novos encantos...

O que lhe digo agora, já disse a outras musas,

estou reiterando gestos,palavras,sentimentos

do domínio do universo.

Deixe-me ir musa amada.

Deixo-lhe belos poemas estampados no seu leito

e nos tecidos da sua memória.

Guarde-os são seus para todo o sempre.

ponha seu melhor sorriso para esta ocasião.

preciso destinar-me.

Destinar-me é preciso.

Tu sabes disso.

Deixe-me ir musa amada,

se não me libertares a lua intercederá

por mim entre os mortais.(03/09/09)

Crença


Para Luiziane Lins

Leio sua boca

Contemplo a luz dos seus olhos

Sua voz aproxima-se de mim

Reiterando minha crença

Na realização dos seus desejos. (29/12/04)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Opção


Leio Pablo Neruda

enquanto os homens lotam os bares

embriagando seus abdômens.

Ouço suas falas

que alcançam o ar sufocado.

pela fumaça nicotinada.

Teceiro dia

Ergo-me diante de ti

Com a rigidez de um túmulo

Abatido pela ação do tempo

Sem sorriso para exibir.(25/011/06)

Gestação

Guardo na boca palavras para um poema

Que não quer chegar

Se o poema não chegar

Onde despejarei as palavras ansiosas

Que me incomodam os dentes?

Profecia II

Quando a terra saciar-se de sua fome

Viveremos e morreremos entre cadáveres fétidos

Que servirão de solo aos pés dos errantes

O vento vadiará debaixo do céu

Carregado de memórias.(12/04/97)

MOTIVO


Sou poeta porque tenho vários eus.

Sou poeta porque minha história

é mais bonita do que a do gauche itabirano.

Sou poeta porque tansfiguro coisas comuns

em coisas imprescindíveis.

Sou poeta porque meu destino é sísifico.

Sou poeta porque transcedo.

Sou poeta porque sempre que desejo

Vou à passárgada amar as mulheres que desejo

Sou poeta porque isso é o que sou.

Sisifismo


Meu professor de português é um sujeito simples

E composto de decência

Ainda se conduz na sua bicicleta

Identificando objetos diretos e indiretos

Por onde passa.

Reconhece-os bem e ergue os verbos

Deixando-os escorrer nas linhas das suas mãos

Transfigurando-os em transitivos

Nos períodos que edifica nas ágeis pedaladas

Que o farão chegar,ele sempre chega

E a flor do Lácio floresce entre nós

Exalando o cheiro inicial da sintaxe

Do tempo dos mortais.

Conceito


Educar é semear saberes no ar

no solo fértil e infértil.

O tempo da colheita virá

e as mãos ditosas do mestre

aguardarão com ânsia e ternura

o nascimento do trigo e do joio. (09/01/98)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tecedor


Para Joyce Mesquita

Perto de ti sou poeta

Transfiguro seu cheiro em palavras

Desenho seus lábios nas linhas dos versos

Beijo-os entre verbos

Que não se fazem carne

No tecido poemático

Dos desejos intermináveis. (14/05/09)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Brevidade

Sei que não estás aqui

és ausência

na existência transitória dos mortais.

És saudade

sentida na brevidade do tempo

deste dia.

Caos

Após o caos

O caos

O grito

O silêncio

Uma lágrima abre caminhos

No solo da face exausta.


Sina


Carrego minha cruz e minha paixão

Pelas ruas da cidade

Convicto do calvário e da morte

É a sina que me deste

Hei de cumpri-la

Que se cale a voz descrente

Que se faça a vossa vontade

Não recorrerei às profecias

Pois já sei o que me aguarda

No fim do túnel

Entre luzes e trevas. (06/07/09)

Terceiro dia

Ergo-me diante de ti

Com a rigidez de um túmulo

Abatido pela ação do tempo

Sem sorriso para exibir.(25/011/06)

Exesso

Cansei-me de querer vê-la

Encontrei-a

Nada senti

Pois estava exausto

Do excesso dos desejos.(17/12/06)

Atos

Deitei seu corpo nu

Na calçada suja de batom

Cobri-lhe com meu corpo

Todos os atos se consumaram

Ficamos exaustos

O sono veio

Nós o acolhemos debaixo da lua.(23/12/06)

The end

Deixo-lhes minha angústias

Impressas nas vossas memórias

Vou-me sabendo que estão convictos

Das vossas mediocridades

Sei que sofrem

Mas nada podem fazer por vós mesmos

Nem por ninguém.

Tudo está consumado

Que nos venha o que merecemos. (02/05/09)

Cantiga para zangar mulher

Tu eras uma sereia

Quando ignoraste o meu olhar

Mas o tempo passou

Ficaste feia

E o meu olhar

A ti não mais se destinou.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

QUE NÃO TE CONHECE

Quem não te conhece que te ame

Quem não te conhece que chore por ti

Quem não te conhece que vele teu sono

Quem não te conhece que guarde tuas memórias

Quem não te conhece que afague os teus cabelos

Quem não te conhece que te diga versos

Quem não te conhece que se embriague contigo

Quem não te conhece que detenha o vento

Que torna tuas pálpebras pesadas

Quem não te conhece que se vá contigo

Quem não te conhece que te dê as mãos

Quem não te conhece que não te conheça...

SERENAMENTE

Tudo jaz no campo-santo

Tudo está em paz no campo-santo

Os ventos brincam entre os jazigos

As folhas murchas caem

Serenamente sobre a terra

Que come os sonhos, as ilusões,

Os corpos, os sexos...

PROMESSA


Para Lucas de Araújo Melo


Quando eu bordar nos teus lábios

As cantigas do meu povo,

Tu as cantarás embalando o sono dos homens.

As noites insones terão fim

E tua voz não abandonará

Os meus ouvidos...

EM COMUM

Para: Werber Moreno

Nós, homens de letras e palavras

Fomos feridos pelas mãos carrascas do tempo

Caminhamos entre os nossos contemporâneos

Como se as nossas chagas intraduzíveis

Estivessem ocultas.

Querem que falemos de nós.

Querem que sejamos específicos, objetivos.

Querem que mudemos a expressão dos olhos e da face.

Nos negamos às falácias e às vontades alheias.

Os nossos enigmas são nossos.

Tornaram-se bens, propriedades privadas de nossa essência

Não podemos partilhá-los com ninguém

É o que nos restou dos árduos combates...

domingo, 2 de agosto de 2009

Nominado

Para Vinícius de Araújo Melo

Filho meu, estás nominado.

Os ventos poderão chamar-te

e Os pastores também.

As ovelhas hão de buscar a suavidade

das suas mãos

e a luz dos teus olhos...

Caminha filho meu entre os homens

e edificas teu próprio caminho.

Canta para nós a tua canção.

Faz-nos adormecer em paz

para que amanheçamos refeitos.(12/02/99)

A Morte da Puta

Morreu uma puta

alegrou muitos homens

e fez chorar muitas mulheres.

Morreu uma puta

agora jaz entre quatro velas fartas

Sete palmos de terra aguardam

Seus restos mortais.

Onde estão os homens que gemiam

ou faziam a puta gemer?

Disfarçando suas dores ao lado

das esposas contentes.

Apenas eu que não comi a puta

Estou a velá-la.

Contemplo o céu azul e suplico que chova

para que todos pensem que a puta é santa

para que as portas da igreja se abram

e acolha seu corpo antes da partida

para a morada eterna. (27/07/09)

Brevidade

Sei que não estás aqui

és ausência

na existência transitória dos mortais.

És saudade

sentida na brevidade do tempo

deste dia.

Informe

Mega-sena acumulada

diz o informe.

os transeuntes vão e vem lendo-o.

A fila se faz.

Alonga-se.

O sol cobre-a.

O suor escorre nas faces dos mortais

que acumulam desejos,sonhos,vontades,

promessas,nos seus corações.

Busca intensa

Para Aline Nogueira

Onde estás?

Por onde te escondes?

Não a encontro nestes tempos internétcos

E orkutianos.

Que tecnologia devo usar para vê-la de novo?

Indago intensamente

Inquieto-me entre os mortais

Que nada me dizem. (25/10/07)

Excesso

Cansei-me de querer vê-la

Encontrei-a

Nada senti

Pois estava exausto

Do excesso dos desejos.(17/12/06)

Atos

Deitei seu corpo nu

Na calçada suja de batom

Cobri-lhe com meu corpo

Todos os atos se consumaram

Ficamos exaustos

O sono veio

Nós o acolhemos debaixo da lua.(23/12/06)