sábado, 1 de dezembro de 2012

Contemplação




Olho-me no espelho
Não sou mais sereno
Não sou mais jovem
Perdi meu olhar dileto
Minha face não oculta que tudo passou
Um novo tempo habita meu corpo
Convicto da transitoriedade. (27/10/12)


Caminhos






Os sinos dobram
Caminho para a morte
Penso em ti
Muitas coisas passam por mim
Passo por muitas coisas
Detenho o que desejo nas mãos?
Nem sempre
Os sinos persistem
Para quem estão a dobrar?
Sigo meu caminho que se alonga
Aquietando no coração essas indagações. (08/11/12)

Fênix mascarada





Sou frágil mas sou macio
As vezes envergo
Mas não me deixo quebrar
Refaço-me sempre das minhas cinzas
E me vou com as máscaras que recolhi nas estradas
Hei de usá-las enquanto viver
Para que minha dor não seja notória. (26/10/12)


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Onde estou





Estou entre palavras impressas em vários volumes
Silenciosas ou furiosas em suas páginas
Submissas às ações do tempo
Leio-as amareladas
Afago-as e guardo nas narinas
Seus cheiros primitivos. (17/07/12)

Rememoração



Recordo suas mãos massageando minhas panturrilhas
Sempre exaustas
Sempre carentes das suas mãos
Recordo minha voz lhe chamando
Recordo sua atenção a mim destinada
Recordo seus medos ao me encontrar com poucas roupas
Na minha cama larga revelando meus desejos
Recordo o que eu sentia quando massageavas
As não tão jovens panturrilhas
Recordo-te porque não estás mais aqui
E as minhas pernas estão a doer. (17/07/12)

Quitação













Agora que tu estás amaridada
Não me procuras mais
Quando me vês viras o rosto
Suporto isso querida
Porque sei que virá o dia da quitação. (30/06/12)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Virtualidade




Para Sulamita Ferreira Teixeira

Sinto que sofres mas não te vejo
Dói em mim suas palavras em linhas retas
Que se erguem diante de mim
Fazendo um esboço da sua face contrita
Que se aconchega aos meus dizeres
Que não se exaustam de lidar com a dor. (03/09/12)

Em nós




Para Ana Miranda

O tempo passou por ti
Mas não te levou a beleza
Deixou entre nós uma tarde
Repleta de ventos e palavras
Que se aquieta em nossas memórias
Para que o esquecimento não a alcance. (24/07/12)

Meu querer















Para Carolina Ferraz 


Eu quero minhas palavras na sua boca
Eu quero minha poesia na sua voz
Eu quero sua voz dançando junto ao vento da minha cidade
Eu quero vê-la andando de camisola pelo quarto
Pensando uma performance que materialize os meus poemas
Eu quero que todos a vejam com meus poemas nas mãos
Eu quero que todos se convençam que sou poeta
E me deixem em paz. (08//09/12)

Sabor




















Aline Abreu

Enigmas escorrem nos caracóis dos seus cabelos
Alcançam a estrela que não se oculta
No seu pulso
Pego- o
Sinto-o
A estrela pulsa sem luz
Abre-se para mim
Beijo-a
E me vou com o gosto da sua pele
Na boca. (20/09/12)

sábado, 1 de setembro de 2012

Sua presença


Para Inês Mara da Silva

Vi-lhe

Viste-me

Não pensei que virias a mim

Não pensei que me darias um abraço

Não pensei que seu cheiro ficaria em mim

Reclamando sua presença

Vi-lhe

Viste-me

E agora?

Não posso atravessar a rua

Estou repleto de desejos

E o meu olhar segue-lhe

Até sumires no caminho. (19/08/12)

Brincadeira



O vento brinca nos seus cílios de papel

Tu temes que ele os leve consigo

Olhas para mim

Olho para o infinito

E não alcanço o vento que se vai veloz

Com os seus cílios negros nos alforjes... (20/07/12)

Cobrança


Para (Re)beca Sales Viana

Abraçaste-me tanto que fiquei sedento de ti

Abraçaste-me tanto que ficaste no meu corpo

Feito tatuagem

Abraçaste-me tanto que seu cheiro ficou em mim

Aguçando lembranças

Abraçaste-me tanto mas não saciaste os meu desejos

Abraçaste-me tanto mas foste embora

E não me levaste contigo. (27/05/12)

Receio


Para Eveline Linhares

Vejo trilhas no seu corpo

Invejo o artista que as bordou em ti

Desejo segui-las pois sei o que encontrarei

Receio não ser aceito na jornada

Receio não findar a travessia

Receio não ver a jóia que ocultas entre as pernas

Por isso olho-te mais uma vez

E me vou levando na memória

Os rastros que não porei os pés... (30/08/12)

Sempre seu


Para Joyce Mesquita

Estavas aqui

E meu olhar lhe cobria o corpo

Lhe enviei minhas metáforas

Bordadas em versos

Pensei que seria teu

Quando perdi a esperança

Segui minhas trilhas amando outras musas

Sem deixar de ser sempre seu. (29/08/12)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Seu sorriso




Para Liduina Maria Gomes Marinho

Vi-lhe vestida de junho
Bordando um sorriso lindo
Que não era para mim
Desejei que aquele sorriso se destinasse a mim
Desejei que me visses naquela noite junina
Desejei seguir seus passos numa dança
Para que seu sorriso ficasse estampado em mim
Reclamando sempre sua presença. (07/07/12)

Andariho

Quando eu voltar não chore sobre os meus pés
Nem enxugue- os com os cabelos
Porque não me demorarei
Deixe-me apenas andar pela casa
Rever o verdor dos seus olhos
E acumular mais saudades no meu coração
Para que eu repleto de ti retorne aos caminhos
Que não cessam de chamar por mim. (27/06/12)


Recusa




Engoliste minha voz

Destinei-lhe mímicas

Mandaste-me ir embora

Fui-me com a dor da recusa

Impressa na alma. (04/05/12)

domingo, 1 de julho de 2012

Tentativa


Fizeste festa em minha vida

Mas foste embora

Não deixaste nem a música terminar

Deixaste a dança incompleta

Outras festas perturbavam tua memória

Outros homens te chamavam

Chamei-te também

Não podias me obedecer

Pois ainda estavas submissa

Ao teu passado. (15/04/12)

legado


Princesa do norte não és mais nobre

És apenas uma princesa

Que guarda nas tuas foças nasais

Os bons cheiros da infância

Cheiros que não voltam mais

Quando voltam se aquietam em tuas memórias

Não alcançam as tuas ruas fétidas

Oh! Princesa do norte.

O lixo engorda os paralepípedos

E o odor se estica pela urbe

Ondeia no ar

Desafiando o vento que não consegue

Lhe dar outro destino. (17/06/12)

Moldura

Para Fernanda Guerra

Imagino-te numa moldura

Com esses cabelos soltos

Com esses ombros nus

Com essa luz solar bordando sombras

Na sua face

Imagino-te no meu quarto

Preenchendo a moldura

Deixada pelos meus ancestrais

Imagino-te em todas as molduras dos cômodos dessa casa

Fazendo-me recordar sempre de ti . (02/06/12)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Enigma



O homem encontra a morte
ou a morte encontra o homem?
Sento-me na minha cadeira de balanço
com esta indagação.
Adormeci com várias palavras
que não teciam uma conclusão
acordei com as costas doendo.
Balanço-me na cadeira
a indagação foi e veio
só não veio a resposta...

Com os olhos




Quando a fala não fala
nem o falo penetra
tento comer bem
com os olhos.

Incluído




para Barros Pinho

Nos deixastes num sábado azul
quase finalizaste abril
não li mais o jornal
pois já sabia o que não queria saber
deixei-o das mãos
continuei de pé tecendo versos
só para ti. (05/05/12)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ao tempo


O tempo passou

Levou meus sonhos e as mulheres nuas

Que me possuíam sem pudor

Deixou em mim noites intermináveis

Com pesadelos certeiros

E uma forte convicção da sua existência. (05/04/12)

Em companhia I



Agora estou só
E a voz de Chico Buarque
Invade meu silêncio
Com sílabas, versos e canções
Olho a minha volta
Ouço a voz de Chico Buarque
Dentro de mim
Abro a boca
Não consigo cantar
Estou só em silêncio
Com muito barulho
No meu ser.

Em companhia II

Agora chove
Estou só com a voz de Chico Buarque
Que se eleva aos céus
Misturando-se à chuva que cai
Forte no meu telhado
Bordando-o de sílabas cantantes
Que se vão
Seguindo o caminho do mar.( 22/04/12)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uno

Prendi meu rabo ao seu

Nunca mais reclamaremos de solidão

Onde eu for

tu irás

Onde fores tu

Irei eu

Seremos uno

Na diversidade do nosso amor.

Visão

Para Irene Neres

Tu passas por mim

E não me vês

Fico a olhar seu cabelos soltos

Que se alongam nas suas costas

Fazendo-me visualizar

A menina que foste

Na mulher que és.

Pleonástico


Vou me guardar em mim

Pois já sei o que é sofrer

Serei minha própria companhia

Até o tempo se esgotar fora de mim.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cumplicidade

O sol se desliza nas calcinhas

Penduradas no varal

Secando no tecido as memórias

Que imploram por silêncio. (11/02/12)

Teu andar


Quando tu te vais

Fico a olhar o teu andar

Suas nádegas dançam

É uma coisa linda de se ver

Meu olhar atento segue-lhe

Até sumires no caminho. (12/02/11)

Dilemas


Aos mortos não interessa

O tempo que passa

O vento que inquieta as folhas das árvores

A memória que busca novas lembranças

As mudanças que se fazem entre os homens

As lágrimas que ficaram

O que não foi realizado

A mulher de preto

O retrato que ficou na parede

O último beijo

O que ficou por se dizer

A solidão vivida

O grito que se calou na garganta...

Esses dilemas da vida só pertencem a nós

Os degredados filhos de Eva

Aos mortos só interessa

O silêncio e a indiferença.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Vício


Quando terminarei de morrer?

Não me responda

Não pretendo saber

Apenas indago

Enquanto o tempo passa

Pois me viciei nisso. (08/04/11)