terça-feira, 3 de dezembro de 2019

No que existe


indo e vindo
no cotidiano
no remorso
na culpa
na desculpa
o dedo da morte
no fim do dia
no azar
no tempo
na bala perdida 
na emboscada
o dedo da morte
na esquina
no ar
nos pensamentos
na solidão
o dedo da morte
em tudo que vive e existe. 




Explícito




não te mates, Carlos
estou sem um amor mas estou aqui
fui ao mar molhei minha dor
corri na areia mas não me matei
não te mates, Carlos
Fernando Pessoa veio me dizer
que tudo vale a pena
estou deveras convencido disso
quanto a ti Carlos, não te mates. (23/11/19)






Hoje



hoje eu só quero pensar em ti
se vieres me ver nada te direi
ficarei a ver os teus olhos verdes
se me disseres algo só me aterei à suavidade da tua voz
não tecerei argumentos
porque hoje eu só quero pensar em ti
na tua presença
ou na tua ausência. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Serenamente


Tudo jaz no campo-santo
Tudo esstá em paz no campo-santo
Os ventos brincam entre os jazigos
As folhas murchas caem
Serenamente sobre a terra
Que come os sonhos, as ilusões,
Os corpos, os sexos...

Mais frágil


levaste meu chão quando fostes embora
meus caminhos não os encontrei mais
fiquei errante
um adarilho sem par
indiferente ao tempo e a sua passagem
olho meu pulso
o relógio não sei onde o deixei
os dias passam
o tempo passa
é fato
e tudo vai ficando mais frágil.

O que resta



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
O medo se avoluma e o silêncio pesa como se fosse matéria
O retrato na parede aos gritos para ninguém ouvir
Os cômodos  da casa com suas memórias
Mostram-se exaustos das brincadeira do vento
Que faz distãncias porque é  o seu desejo
E o que resta é a certeza do novo dia
Com a chegada das pirraças eólicas.

O primeiro verso é de Carlos Drummond de Andrade.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Oração de terça-feira


Senhor, disseram-me que tu estás de férias
nem te importas mais com a humanidade
e não nos tens mais em tua misericórdia
Senhor, que eu não creia nesses dizeres
eles chegaram aos bares às universidades
gritam nas mentes dos catedráticos
nos templos eles se calam entre hinos e homilias
que eu não creia nessas coisas
que eu viva com fé e me volte para ti
sem medo de me jogar nos teus braços
após dar meu último suspiro. (03/09/19)

Devoto


sou devoto da tua nudez
curvo-me a ela
rezo para que tenhas vida longa
e não me abandones nas minhas noites insones
tu me olhas de joelhos e me destinas teu sorriso
ordenando-me a erguer-me porque não és uma santa. (31/03/19)


Para a moça do vestido florido


eu vi flores no teu vestido
eu vi flores no teu corpo branco desnudo
eu vi tuas mãos tão bem desenhadas longe de mim
eu fiquei ao teu lado pela manhã e nossas falas se encontraram
tu continuas tão linda disse-lhe isso aos meus pensamentos
e o tempo me disse que a tinha envelhecido
sorri ouvindo o tempo e discordando dele gritei quando tu te ias:
- continuas linda!!! (07/01/19)

domingo, 1 de setembro de 2019

Na hora da minha morte



quando chegar a hora da minha morte
não me venha com pedidos de perdão
quando chegar a hora da minha morte
não me olhes com piedade
quando chegar a hora da minha morte
não me faça confissões para que elas morram comigo
quando chegar a hora da minha morte
apenas venha me ver e me deixe morrer em paz
com aquele sorriso que eu nunca te dei. (30/08/19)


Sob o teu ventre



o que tu levas entre as pernas
nas tuas idas e vindas
subidas e descidas
dou o nome de flor
hoje o vento me disse que tu tens asas entre as pernas
e que tu voas
veio-me um beija flor com uns lábios
beijou-os tanto afirmando que eram teus
reconheci-os porque quando te beijei
eles estavam sob o teu ventre.(29/08/19)



Sob o céu II


amazônia verdecinza
cinzaverde aos olhos dos mortais
trevas alcançando o infinito
trevas no ar
no vento
fazendo alarde
alerta
ante a indiferença dos tiranos. (23/08/19)

Sob o céu I



amazônia
em chamas
chama
seu grito alcança o ar
não cai nos ouvidos dos que lucram
amazônia
em chamas
chama
seu grito escuro faz noite
nos satélites da NASA
amazônia
em chamas
chama
sob o céu. (22/08/19)









quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Sob o viaduto

Cadê os pobres que lotavam o viaduto do santuário de são Francisco?
a vida melhorou e eu nem percebi?
procuro-os vejo apenas espaços vazios
penso coisas horríveis possíveis de acontecer nestes tempos
ando e deito o olhar em santo Antônio
tudo está calmo sob o viaduto
está inquieto é o meu coração
meus pensamentos se avolumam
tenho medo de dizê-los ao santo
que me estende a mão com um pãozinho
pego-o e me vou com minhas indagações. 


Discurso de um sonhador


eu vou te comer Maria Izabel
e depois irei para Paris
se vais lembrar de mim eu não sei 
sei que me verás na tela do teu celular ao lado da torre eiffel
lendo poemas  numa manhã de domingo 
o que vais dizer eu não sei
sei que tu verás o meu sorriso
e o meu sonho  realizado. 

No espelho

olho-me no espelho e  vejo meu pai
sinto meu pai em mim 
já ouvi sua voz no meu discurso 
Até percebi que eram meus os seus gestos 
olho- me no espelho e sempre me vejo
o tempo passou deixou minhas pálpebras pesadas
e o meu pai está no espelho olhando para mim
olho-o ternamente e  me vou deixando a barba por fazer. 


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Indagações noturnas




amém
além
o mar me diz
o vento me confirma
amém
além
numa voz feminina
querendo cantar
ou cantando com disfarce
essa voz que desconheço
vem do mar?
a quem ela pertence?
se vem com o vento para onde vai?
se destina a alguém?
aproximo-me mais do mar
fico mais perto do vento
tecendo indagações noturnas.

Da minha lavra


Tua bunda é mole
Não a vi
Nem peguei- a
Como sei disso?
Tua linda voz confessou- me isso
Nos meus ouvidos
Aí sua fala alcançou minha boca
E o poema foi se chegando
Tirou- me o sono para ficar bem tecido
Na melhor linhagem da minha lavra.








Mal começa o dia




mal começa o dia e tu já estás no meu pensamento
mal começa o dia e eu sou mais pecador do que ontem
mal começa o dia e eu já me vou fugindo de tantas tentações
mal começa o dia e eu já estou exausto
mal começa o dia e eu estou mais frágil diante de tudo
mal começa o dia e eu estou mais descrente
mal começa o dia e eu careço bem mais da bondade de Deus
mal começa o dia e eu sou tão finito
mal começa o dia e eu já penso num poema
mal começa o dia e eu me engasgo com uma metáfora
mal começa o dia e eu inquieto as dúvidas
mal começa o dia e eu lamento por não conseguir te esquecer
mal começa o dia e eu fico a chamar a noite
mal começa o dia e o meu poema inacabado ordena:
-poeta, vá dormir!!!


Na cabeça




ela sobe e desce a ladeira com a palavra de Deus na cabeça
o livro santo nem se move sobre o seu cocó
todos os dias vejo essa mulher subindo e descendo a ladeira
e sobre o seu cocó tudo se acomoda: pote com água,
feixe de lenha,trouxa de roupa e aos sábados ouço sua voz
indo ao templo com a palavra de Deus na cabeça.

sábado, 1 de junho de 2019

A mosca do diabo



a mosca sai da panela do diabo
e me encontra lendo poesia
vejo-a melada de sopa
a mosca ronda minha cabeça
expulso-a deslizando os dedos nos meus cabelos
a mosca suja de sopa não desiste de mim
gruda-se no meu livro dileto
fico enfurecido e acerto um lápis nela
a mosca se vai mas a mancha fica
fazendo-me lembrar do episódio.


Charme incerto


A incerteza è charmosa por isso fecho os olhos
E ando por aí sem saber no que esbarro
Nem reconhecer os que me tocam
As trevas é o que eu tenho diante dos olhos
Agarro- me a ela enquanto teço minhas andanças
No charme incerto de nada ver
Nem saber saber entre os mortais .



Devoto



sou devoto da tua nudez
curvo-me a ela
rezo para que tenhas vida longa
e não me abandones nas minhas noites insones
tu me olhas de joelhos e me destinas teu sorriso
ordenando-me a erguer-me porque não és uma santa.


Agora eu sei




agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido
falta pão e sobra mesas no poema
avoluma-se a fome e a miséria nas ruas
nossas mãos viram como se partilha no templo
mas deixaram esse saber cair por terra
e ficaram gordas de ambições
agora de posse dessa certeza
olho as minhas mãos injustas
ergo-as ao infinito para que Tu me ensines a escrever nelas
novas linhas de bondade e de justiça.


O verso inicial é de Francisco Carvalho



quarta-feira, 1 de maio de 2019

Uma mulher sentada



uma mulher sentada
é apenas uma mulher sentada ?
por que envelheço o olhar contemplando-a?
por que indago se o que vejo é o que eu estou a ver?
a queda de uma maçã faz surgir uma nova lei
e uma mulher sentada o que quer nos mostrar em sua pose despropositada ?
coleciono memórias de mulheres sentadas
meu olhar no cotidiano alcança a todas
por mais que eu indague ou queira entender
tentam me convencer que o que eu vejo
é apenas uma mulher sentada.

Teu beijo



só me recordo da tua boca na minha
acho que nem vi teus lábios
se aconteceu algo mais
perdoa-me por não lembrar
nem sei quem és tu
só sei que acordei feliz
por causa do beijo teu.

Clamor geral



meu país fede
deixa rastros entre deputados e senadores
discípulos seguem a fedentina pelas ruas da pátria
alguns se incomodam com o andar da carruagem
outros se auto-exilam nas formas reais ou imaginárias
e o andor se vai conduzindo o santo numa procissão
de súplicas infindáveis e desesperadoras
o povo olha a face do santo
o santo olha a face do povo e chora
o povo acolhe as lágrimas do santo
e o clamor é geral.

Tua nudez



O varal me exibe as tuas calcinhas
O sol se desliza sobre elas
O vento se aproxima e faz silêncio
O poeta olha- as da sua janela
E fica a recordar a tua nudez.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Acima de nós


O tempo acima de nós
Entre nós
Nos ombros dos mortais
Que abrem os braços sob o céu
O vento passa e diz:
-O tempo crucifica a todos. (22/01/18)

Minhas ilusões


Para  Mia

Minha croata está tão longe
E não sabe que eu a quero tanto
Nem imagina que eu a tenho nos meus versos
Nos meus versos és minha
És tão próxima
Saindo desse contexto
Estou só
Estás tão longe
Não és minha
Só legitimo posse das ilusões
Que por direito são minhas. (17/08/15)


Ainda te tenho


o tempo passou e eu ainda te tenho no meu lembrar
ainda bem que não me amaste
ainda bem que não vi tua nudez
se nada me deste e eu estou a penar
não sei o que seria de mim
se eu tivesse vivido contigo o que imaginei e desejei
meu sofrer não encontraria consolo
e nos meus dias persistiriam os lamentos. (01/08/18)

sexta-feira, 1 de março de 2019

Posse


ouço minhas palavras
na tua boca
não me importo que te aposses
delas
nem que recite-as ao vento
ao mar
e aos peixes...

Grande bem


sigo-te pedalando pela cidade
tua nuca  exposta ao vento
meu desejo de osculá-la não te alcança
olho-te por inteiro
colho num desses momentos teu sorriso
guardo-o na minha alegria
e tu te vais sem saber do grande bem
que me fizeste. (19/12/17)


Em pensamentos


não estou pensando em ti
por que já é tarde
entrego-me a outros afazeres  neste momento vespertino
ou penso em ti até quando não estou a pensar?
não pensando penso
vou-me sendo presença pelos caminhos
até existo em mim
em ti
que nem me percebeu
no sinal vermelho
recitando poemas aos transeuntes . (26/06/18)


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Indagações noturnas


amém
além
o mar me diz
o vento me confirma
amém
além
numa voz feminina
querendo cantar
ou cantando com disfarce
essa voz que desconheço
vem do mar?
a quem ela pertence?
se vem com o vento para onde vai?
se destina a alguém?
aproximo-me mais do mar
fico mais perto do vento
tecendo indagações noturnas. (29/01/19)

Por causa das pernas



a mentira tem pernas
dizem que são curtas
assim sendo seriam belas pernas?
enlouqueceriam um poeta e o deixaria bêbado na esquina?
as pernas da mentira merecem comparações?
alcançam distâncias?
recordo as pernas de Melissa num fim de tarde
recordo os olhares a elas destinadas
quanto a mentira  duvido dela
mas as suas pernas merecem crédito? (14/01/19)




Na pátria amada



não vale a vida acima do capital
vale a vida abaixo só de Deus
não vale a natureza submissa
vale a vida e a natureza insubmissas
não vale o vale
vale o amor em todos os vales
não vale a indenização
não vale a ajuda financeira
não vale remediar
vale evitar crimes
vale prevenir
vale pôr no vale
que todos são amados
na pátria amada. (28/01/19)


Tua atenção


Vi-lhe de costas
Tuas ancas apontavam em linha reta
Se olhos tivessem olhariam
Vi-as firmes no jeans
Teus cabelos negros estavam quietos
O vento não veio brincar neles
Fiquei de pé distante de ti
Fiquei exausto de olhar-te
Fui-me sem ser digno da tua atenção. (25/10/17)


terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Manifesto para esses dias


o poeta se inspira
luta com palavras
se engasga com fonemas
fica entre metáforas
o poeta combate os desejos
acata-os
busca a realidade das coisas perdidas
encontra-as quando não as procura
sente-se perdido na rua deserta
volta-lhe a memória e seus passos se vão
o poeta é um, é dois, é mil porque é o que é
e mesmo que haja demora
a poesia não o deixa falando sozinho pelas ruas da cidade
quando ele fala sozinho é porque deita versos no vento
que lhe vem das distâncias trazendo-lhe recados das amadas
que não mais hão de voltar.




Desse jeito



não tem mais jeito
o proposto
o posto
posto está
será deposto?
exposto?
não sei
quem sabe?
o tempo
o que eu sei é me deitar em versos
e não surtar
porque não tem mais jeito
bebamos deste cálice
passaremos essa travessia bêbados
se for possível nos virá o riso
será melhor assim.












Tua nudez


tua nudez é fala e silêncio diante dos meus olhos
tua nudez é linguagem e barulho dos fonemas
nos meus lábios
na minha voz
tua nudez não tem enigmas e se deita nos meus versos
desprovida da vergonha que tu tinhas antes de me conhecer
tua nudez sempre tua para ficar ou para ir embora.