sábado, 4 de julho de 2009

LEITURA


Eu me leio

Às vezes de manhã

Às vezes à tarde

às vezes antes de dormir...

O FILHO PRÓDIGO

(Publicado na revista mundo jovem em 1992)

O poema que eu não fiz

Que ninguém o faça

Que ele se refaça

Nos seios esqueléticos

Das mudanas que eu não conheci...

Que ele sangre das pedras

E se transforme em pães

Para alimentar os filhos

Os filhos que eu não fiz

Que ele grite nas capoeiras

Que ele dance ciranda

Que ele pule nas praças

Que ele fecunde os ventres

Todos os ventres sedentos

E faça com que nas madrugadas

Surjam choros inéditos

Novas crianças

O poema que eu não fiz

Que ninguém o faça

Que ele se refaça

No seu silêncio...

NOCTÍVAGO

Quero chorar com os cães -

Cães solitários....

Nas ruas desertas caminharei,

Aliarei-me aos vigias,

Para que a noite não caia nas mãos dos vândalos...

Seguirei o cio da brisa,

Que agitará o meu sexo,

E conduzirar-me à mulher...

Que saltará dos olhos da lua...

CANÇÃO DA SOLIDARIEDADE

A Mazé Marinho

Amiga,

Vamos correr nos campos

Vamos contemplar os lírios

Vamos nos ocultar com o sol atrás das montanhas

Vamos ao encontro do pão que jaz no forno,

Podemos reparti-lo com os famintos.

Vamos partilhar nossas alegrias com os descontentes

De toda a terra.

Vamos dividir nosso leito, nosso amor

Com todas as gentes.

Vamos semear trigo na terra dos nossos ancestrais.

Vamos ler poesia quando a noite chegar.

Vamos perseguir a lua até alcançá-la.

Vamos dançar ciranda entre o céu e a terra.

Vamos caminhar nas estradas

De nossa infância.

Vamos nos tornar crianças,

Para que nos deleitemos no reino

Que nos foi prometido...

ALGOZ

O poeta envelhece

entre os homens.

A morte não lhe é uma

ideia absurda

É uma certeza que se impõe

Todos os dias,

Tornando-se uma algoz indesejável.

VIGILÂNCIA

Cruzes fincadas no solo

Vigiam jovens, velhos, anjos e demônios

Que repousam eternamente?

A tarde finda

O sol escorre

Adentra-se nos poros

Da terra fétida...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

MEUS CARAS



Caetano, os caras que me consomem

Não possuem olhinhos infantis

Não sonham mais

Entregaram–se às vozes dos instintos

Alguns já são bandidos

E eu sou apenas um professor. (03/05/09)

MEMÒRIA

Qundo a indesejável das gentes

Vier me bucar

Que meu retrato fique pendurado

Na parede

É o tudo ou o pouco do resíduo

Que sempre fica

Para que a memória persista

Nas açõe(cruéis)do tempo.(21/06/09)

ESTAMPA


Vi a bunda de Fran

Estampada na capa da revista

Não fatigou minhas retinas

Sedentas das coisas belas

Fui-me entre os mortais

Com os olhos saciados. (20/06/09)


(IN)SUBMISSO

Aos doutores das letras do Ceará

Eis me aqui

Com mais uma morte cravada na alma

Sem poder erguer um protesto.

Eis me aqui indefeso

Submisso ao império dos vermes

E dos seus brasões

Definidores da razão

No universo das letras.