quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cíclico



Refaço-me
O vento volta
Desfaz-me
O que se foi
Volta e inquieta-me
Do mesmo jeito
Como se nada tivesse mudado
O que mudou mudou-me?
Não tenho certeza
O vento deixou-me novamente
E ficou comigo a convicção
De que tudo é cíclico.

Visitas



Todos os ventos me visitam
Deslizam-se nas linhas das minhas mãos
Decifram dizeres dos meus ancestrais
Procuro compreendê-los na ventania
Que se vai para onde desconheço
Deixando quietas as páginas dos meus livros.

Oh! portugal




Luciano Correia da Silva, 28 anos, natural de Rondônia, foi assassinado na cidade de Caldas da Rainha, supostamente, por ter urinado na rua.

A vida finda
Mas a urina ainda escorre
Pelas ruas portuguesas
E seu odor chegará às narinas lusas
Clamando por justiça.
O mijo brasileiro corre
Escorre para o vosso mar
Para avolumar as dores
Que tu bem conheces
Oh! Portugal...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

QUEIXA


Para Rachel de Queiroz

Deste o último suspiro
Mas antes contemplaste os retratos
Fixos na parede
Deste o último suspiro
Mas antes afagaste as últimas palavras
Deste o último suspiro
Mas antes osculaste o soneto preferido
Deste o último suspiro
Mas antes olhaste as linhas das mãos
Deste o último suspiro
E nem te lembraste que um dia
Nossas mãos se conheceram.

Ofício


Buscar palavras
Edificar o poema
Alojar sons na boca
Engendrar a fala
Fazê-la escorrer nas linhas escritas
Legitimando a vida e a eternidade
entre os mortais.

Ideologia




Eu sou eu
Essa é a minha verdade
O que me dizes é a impressão
Que tens de mim
Não vale
Vale o que eu revelar
Na luz ou nas trevas
Do nosso convívio.

Ao que ainda somos




Quando me olhas
É a mim que tu olhas?
Quando me abraças
É a mim que tu abraças?
Quando me desejas
É a mim que tu desejas?
Quando me beijas
É a mim que tu beijas?
Quando me procuras
É a mim que tu procuras?...
Curva-me o peso dos anos
E as indagações se avolumam
Na minha mente
Questionando o que ainda somos.

Lógica

Não é por mim
Nem por vós
Que se concretiza a ação do tempo.
O tempo passa
Porque tem que passar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Encontro

Para Mayara Pontes

vi-lhe

Sei que eras tu

Sua voz chegou-me aos meus ouvidos

E seu sorriso estampou-se nos lábios

vi-lhe

Eras tu

Desejei beijá-la

Porque eras tu

Deste-me as mãos

Osculei-as e fui ao encontro

Da sua face

Porque vi-lhe

E eras tu. (10/09/10)

Oferta


Dou-lhe minha ereção

Dou-lhe minha nudez sem pudor

Dou-lhe meus movimentos mais precisos

Dou-lhe a maciez do meu corpo

Que será seu leito

Para que acordes com brilho nos olhos

Dou-lhe as fantasias que desejares

Dou-lhe a leveza do tempo

Não o perceberás passar

Dou-lhe o ar que dança entre nós

Dou-lhe entre os lábios os melhores versos

Da minha lavra

Dou-lhe em único cálice o vinho

Da melhor safra

Dou-lhe o que prometo

Para sejas cativa ao meu amor.

AO QUE NOS UNIU



Um livro nos uniu

Que não nos separe as páginas amareladas

Um livro nos uniu

Que não nos separe os espirros alérgicos

Um livro nos uniu

Que não nos separe as brochuras

Que se avolumam pela casa

Um livro nos uniu

Que não nos separe os antagonistas

Dessa trama

Um livro nos uniu

Que não separe a solidão

Das personagens dessas histórias

Um livro nos uniu

Que nada nos separe

Amém...

Profundamente


Coma-me morena

Não tenha pena

Submeta-me a qualquer posição

Há de aguentar o coração

Se ele enfartar

Não tenha remorsos

Pois morrerei feliz de tanto lhe amar

E se verá a alegria até nos meus ossos.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cobrança


para Joyce mesquita

Sua voz abandonou meus ouvidos.

Seu cheiro abandonou minhas narinas.

Não conheci seu corpo

talvez seja por isso

que não lhe cobro muito

e lhe ofereço uma memória

tão pequena.

Denodo


A Inocêncio de Melo Filho


As bocas falam o que não querem.
Dos ouvidos presume-se que não ouçam.
Mas o poeta com seus óculos de ver o invisível
Ostenta desavergonhada forma
De contorcer a compreensão de outrem.
Desvirtua a realidade,
Desfaz os grandes feitos
E brinca de maneira que mortal nenhum jamais ousaria.
Não que seja um deus ou demônio malfazejo,
É antes um pequenino que vive eternamente a sua infância.

Manoel Messias

Domado

Perdi meu tempo

Mas a vida ainda reina em mim

Orientando caminhos

Que se fazem nas minhas veias

Domadoras da fúria

Do meu sangue. (20/07/10)

Visita



Todos os ventos me visitam.
Deslizam-se nas linhas das minhas mãos
decifram dizeres dos meus ancestrais.
Procuro compreendê-los na ventania
que se vai para onde desconheço
deixando quietas as páginas dos meus livros.

Aos meu mortos



Não me esqueço dos meus mortos.
Vejo-os governando o mudo.
Aprendo seus ensinamentos.
Se me falhar a memória
recorrerei ao tempo
para que ele volte mais lúcido
e restaure tudo que há em mim.

domingo, 5 de setembro de 2010

Instantes




Para Marcela Reichelt

A bailarina dos meus sonhos
dança nas trevas
quando ela se desnuda
seu corpo me ilumina
e suas mãos percorrem-me em silêncio
para que eu não acorde. (05/08/10)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Drummondiando

Nenhum anjo torto

Mandou-me ir ser gauche na vida

Ouvi minha voz imperativa

E fui-me.

Alusão à Drummond

Não tenho armas

Mas posso me revoltar

Tenho mãos

Farei os ventos moverem

Os moinhos e a história...

Resistência


A morte não me quis

Destinou-me aos meus afetos e desafetos

Para que minha sina persista

E a minha luta não se esgote

Entre os mortais. (07/04/10)

Cativo




Maltratam-me seus olhos verdes

Não me olhes mais

Se não me queres

Deixe-me ir com o vento

Levando na memória os olhos teus. (10/04/10)

O poema


Não faça mungangos

Não torça o nariz

O poema não fede

Nem cheira

O que exala fedor

É o papel que o acolheu. (24/05/10)

Domado





Perdi meu tempo
Mas a vida ainda reina em mim
Orientando caminhos
Que se fazem nas minhas veias
Domadoras da fúria
Do meu sangue. (20/07/10)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Reiteração


Para Roberto Piva

A morte ceifa meus diletos
No final o que sobrará?
Uma parede repleta de retratos
Retratos repletos de memórias
E molduras exibindo lágrimas
Resistentes ao vento
E ao tempo. (05/07/10)

sábado, 3 de julho de 2010

Convicção



Eu sou um pobre-diabo

Porque tu não me acolhes

No teu corpo

E nem me queres entre os teus braços

Próximo dos teus lábios.

Esta é a convicção que tenho

E o discurso que faço para mim mesmo

Diante do espelho. (05/08//03)

Opção


Na mulher que és
reside uma menina
que lhe torna mais bela
e mais mulher.
Amar a menina ou a mulher
é a opção que me resta... (17/09/03)




O que sei




Esqueci tua bunda

Não sei mais descrever teu umbigo

Só sei que o vento ainda escorre

No teu corpo

e deixa nos teus ouvidos

palavras minhas..(07/06/05))

Notícia





Saramago morreu

Disse-me um amigo no e-mail

Não acreditei

Fui ao jornal

A notícia estava lá

A saudade lusitana se avoluma

E a minha fica difícil

De carregar... (19/06/10)

Vitória



Os sinos dobraram

Não os escutei

O sono venceu o cansaço

E a minha ida ao templo. (09/05/10)

Ao que ficou




Para Danyhele

Nossas faces frente a frente

Bocas na mira

O beijo não veio

Nem foi

Ficou o desejo desenhado

Nos meus lábios.(04/05/10)

Lição do tempo


Eu sou poeta

Funcionário público e pai de família.

Já fui o herói dos meus pimpolhos

mas o enredo se transfigurou.

A nova trama me assusta

Perdi o domínio do texto

e minha voz se perdeu no barulho.

O tempo me diz que é assim mesmo.

Subsistir é o princípio

para que se alcance o final da história. (12/06/10)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ofélia





Dizei-me em que lago ou rio
jaz a inamovível Ofélia.

Ofélia, a louca, afogou-se.

Ofélia, a louca, em que lago
ou rio de correnteza,
entre sebes afogou-se?
Entre estrelas, orvalho, espuma
afogou-se a bela Ofélia?

Lua de alvo palor,
dá-me notícia de Ofélia
que por amor, só por amor,
levada na correnteza,
como um círio, um cisne, uma pétala
entre lágrimas afogou-se.

Dá-me notícias o vento?
Nem a fonte sussurrante
viu passar a louca Ofélia?
A doce pomba no abrigo?

Nem os pássaros viajantes
dão-me notícia de Ofélia?
Pelos bosques afagantes
não passou a pálida Ofélia?

Corvos da noite, gralhas, tempestades
que varrem as nuvens, por acaso,
não vistes um grão, um só grão
do corpo úmido de Ofélia?

Voa incerto sobre cerros,
planícies, desfiladeiros,
o corpo álgido de Ofélia?

Se, em verdade, Ofélia é morta
à penugem fatal do amanhecer.

Dizei-me se à vespertina luz
Ofélia, a louca, apodrece.

Dizei-me, ó sopro da tarde,
se Ofélia, a louca, repousa
em pântano resplandecente.

Dizei-me se ouço a voz dela
que só aos deuses é dado ouvir
seu nome apenas; dizei-me
se não é de anjos essa voz flutuante
na vaga do céu descorado.

José Alcides Pinto

Unicórnio Dourado




O mar não é tema: tema é o ar do mar.

A poesia é didática - luz
sobre a história e esquecidos altares.
Toda estética; toda, puericultura
lagos oceânicos; ilhas, promontórios
as cidades primevas, o sangue dos heróis
tudo fica muito aquém e além de tuas caldeiras.
De tuas membranas, de tuas
álgidas montanhas marinhas
surge o unicórnio dourado
carregado de sonho e solidão.
E sobre as ondas aquece-se; talvez
esquecido do tempo; a que fim
este unicórnio soçobra-se de mim?

Plumas e pratas patas - unicórnio
um e único - mar
oh soberano rei dos sorvedouros!


José Alcides Pinto


terça-feira, 8 de junho de 2010

Diário de Berenice








Seu homem era belo e forte tinha cabelos

compridos que lhe chegavam aos ombros.

As mãos grossas e macias percorriam-lhe o corpo

e detinha-se nas virilhas latejantes.Tinham o mesmo

calor do sol que irradiava sobre a terra.Fechavam-se

com fúria sobre suas nádegas,como se elas fossem

um fruto a que se pretendesse tirar todo o sumo de

uma só vez.Era o segundo homem que possuíra.O

primeiro foi levado pelas ondas numa noite de tempestade.

(José Alcides Pinto-Diário de Berenice-(p.29)

.






segunda-feira, 7 de junho de 2010

Da inutilidade do tempo


A

José Telles

Estou só no mundo

e não me chamo Raimundo

como Drummond dizia

digo eu: um dia é outro

e o mesmo dia.

E esses dias somados

a troco de vintém:

não servem para mim

nem para ti ninguém.

Não servem para nada

nem pra dar nem vender:

são dias emprestados

a troco de viver.

Mais um dia que passa

sem parar se deter:

nessa doída corrida

sem saber pra quê.

E onde isso vai dá?

O saber que importa:

esteja aberta ou fechada

a porta é a mesma porta

por onde se entra e não sai

tal qual uma sepultura:

como se jogassem fora

a chave e a fechadura.

José Alcides Pinto-O algodão dos teus seios morenos(p.27)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Afirmação


Para José Alcides pinto

O paletó do poeta maldito

Ondeia no ar.

Lúcifer canta pendurado na gravata

e a mulher de preto dança nos bolsos.

Versos se esticam no varal do vento

alcançando o corpo da poesia.

Vozes invisíveis bordam o infinito

a estampa diz que o poeta está vivo.(09/05/10)

Queixa II


Natércia, não conheci seu pai.

Não a conheci também.

O tempo cruel

Prendeu-me entre palavras e metáforas.

Impediu-me de vê-la entre os mortais.

Negou-me o toque das suas mãos

e a memória da sua voz.(03/06/04)

Paisagem


Para Charlene Ximenes


Seu sorriso tece minha manhã

e seu corpo ainda completa a paisagem

da foto que permanece na tela do computador

aguçando minha memória

que tem muita coisa para lembrar

e para esquecer. (28/05/10)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Queixa




Para Rachel de Queiroz

Deste o último suspiro

Mas antes contemplaste os retratos

Fixos na parede

Deste o último suspiro

Mas antes afagaste as últimas palavras

Deste o último suspiro

Mas antes osculaste o soneto preferido

Deste o último suspiro

Mas antes olhaste as linhas das mãos

Deste o último suspiro

E nem te lembraste que um dia

Nossas mãos se conheceram.

Manifesto



Linguagens diversas transitam entre nós.

Elevam-se ao céu em forma de torre.

E agora?Como alcançá-la?

Como domar o idioma que segue o vento?

Não entendo os ecos que me chegam aos ouvidos.

Falas e mais falas se erguem diante de mim,

não querem mais calar.

Lanço meu silêncio no espaço

e me vou convicto do protesto. (10/05/10)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Confissão





Não persigo a rima
Se ela me vem é porque quer
Tal qual as mulheres que me visitam
Domina-me o verso branco
Na folha não tão branca
Não tão virgem
Que se exibe aos meus olhos atentos...(01/05/10)

Laços

Para Joyce Mesquita


Tecemos laços que não nos prenderam

Estás tão distante

Nem seu vulto posso ver

Busco seu cheiro no ar

Encontro o tempo e o que ainda somos

O tempo passará não duvido

O que ainda somos não se alterará

Caia o que cair sobre a terra

Esta convicção me alimentará a alma

Até que nos vejamos novamente... (06/04/10)

Encanto

Ontem seu decote me mostrou

Um pouco dos seus seios

Vi-os esmorecidos

Por isso minha senhora

Não se desnude para mim

Quero que dure para sempre

A imagem que tenho de vós

Minha senhora

Não se desnude para mim

Receio que seu corpo

Não seja como imagino

Por isso deixe-me só

Que o encanto persista...

sábado, 3 de abril de 2010

(IN)QUESTIONÁVEL



Nós somos todos veados

Apreciadores de cus e de bundas

Tu podes até mudar os acordes

Da lira da verdade

Mas não mudarás a letra da canção

Que gritará nos teus ouvidos

Reiterando o refrão

Que não queres aceitar

Mas a verdade não se dobra

E lhe convence que somos todos veados

Em cima da terra

Debaixo do céu. (Sobral 23/04/09)

Excesso



Para Michele Bastos

Cansei-me de querer vê-la

Encontrei-a

Nada senti

Pois estava exausto

Do excesso dos desejos.(17/12/06)

Aliado



Não sei quem és tu

Mas lhe destino o calor da minha voz

Não sei quem és tu

Mas eu desejo completar-me contigo

Não sei quem és tu

Mas eu ficaria sem idioma e sem pátria

Se me pedires

Não sei quem és tu

Mas seu acredito que tenho direito de amar-lhe

Embora não possas corresponder-me

Não sei quem és tu

Mas eu lhe desenho nas linhas dos meus versos

Não sei quem és tu

Mas eu sinto seu cheiro nos meus caminhos

Não sei quem és tu

Mas eu já afaguei suas pegadas

Não sei quem és tu

Mas eu já ouvi sua voz entre meus livros...

Não sei quem és tu

Não sabes quem sou

Mas o amor sabe

E nos acompanha nas nossas jornadas. (20/02/10)

sexta-feira, 5 de março de 2010

(in)disfarçável


Eu canto e gemo em cima de ti

Se por acaso mudas a posição

Cobrindo-me com o manto do seu corpo

Não me transfiguro

Canto e gemo

Sem disfarçar o orgasmo.

LEITURA

Deixe-me ler a escritura dos seus pés

Enquanto os tenho nas mãos

Preciso conhecer suas histórias

Suas andanças

E seu real paradeiro...

Destino

A água cai sobre a pedra

Fura-a pois persiste

Segue seu próprio caminho

Escorrendo para o mar.