sábado, 1 de outubro de 2016

No meu trono

Sento-me no meu trono cinza
Ouço meu filho de pé
Ele se vai
Eu fico à Rodin como se pensasse
E penso
Eu fico a entender como se entendesse
E entendo
Sentado no meu trono cinza
Em silêncio
À Rodin
Sobre merdas. (21/07/16)


Pelo fundo da agulha

. Mt 19-24

Pelo fundo da agulha
Passa o olhar da costureira
Com a linha molhada de saliva
Passa a luz do dia
E o clarão da lamparina anunciando a noite
Pelo fundo da agulha
Passa a fala do profeta com as ordens de Deus
Passa o teu corpo nu
Com o teu cheiro dileto
Só não passa a fúria do teu pai
Na companhia das lágrimas da tua mãe. (16/08/16)


Se fosse

Se tudo fosse permitido
eu beijaria a tua boca
Se tudo fosse permitido
eu andaria  nu pelas ruas
lendo meu poeta dileto
Se tudo fosse permitido
eu jogaria no ar meu excesso de realidades
Se tudo fosse permitido
eu caminharia sob a tua sombra
Se tudo fosse permitido
eu teria a tua nudez real no meu corpo
Se tudo fosse permitido
eu não teria amarras
Se tudo fosse permitido
eu sepultaria a razão com suas lógicas
Se tudo fosse permitido
eu seria a minha própria lei
no vigor da permissividade. (30/08/16)


Minha pátria




A minha pátria é onde está meu coração
A minha pátria é onde oculto meu tesouro
A minha pátria é a língua da flor na boca do beija-flor
É a flor do Lácio no laço entre fitas
Prendendo os cabelos da moça dos meus desejos
Que pátria real tenho diante dos meus olhos!!
Tão amada
E nada me dar
Nem um aceno. (09/09/16)




Pela vida inteira



pelo sim
pelo não
pelo
pela
pele
leveza do pelo
maciez da pele
por um triz
num corpo
sem talvez
nem para sempre
pelo sim
pelo não
não toco um instrumento
que outras mãos me toquem
pelo pelo
pela pele
tecendo a canção deste dia
na minha vida inteira. (15/09/16)