quinta-feira, 1 de agosto de 2013

(In)certeza



Quem dorme?
Quem vela?
Quem segura a vela?
Quem faz a oração?
Quem  apalpa o coração
De Inês antes de fechar a porta?
Inês está viva ou morta?
Nada ouço
Quem me tira do calabouço?
De cá percebo um alvoroço
O que acontece por lá?
Quem virá me contar?
Inês está viva ou morta?
Ouço vozes
Vozes de costureiras
Conheço a cantiga
Inês está viva ou morta?
Quem dorme?
Quem vela?
Quem virá me salvar?
Quem salvará Inês?
Quem porá fim a este alvoroço?
Salvem Inês e a mim do calabouço
Que não me importo se a manga não tiver caroço. (19/09/12)



Costura




Corpo vivo
Roupa morta
Canta a voz rouca da costureira
Agulha e linha seguem a cantiga
Abrindo trilhas no tecido
Haja linha
Para tanto pano
Agulha e linha
No mesmo corpo
Que se inquieta
Haja demora
Haja linha
Para uma cantiga que se repete
Num corpo vivo
Vestido por uma roupa morta... (09/02/13)



Foi apenas um sonho



Foi apenas um sonho
Foi só uma vez
Ficou insistindo em minha memória
Se fazendo real
Os seus  seio pequenos
Se avermelhando na minha boca
Que não esquece
Que foi apenas um sonho
De uma única vez. (07/05/13)




Olhada


Ela pós os olhos em mim
E se foi
Se me levou nas suas retinas
Não sei
Saberei?
Só sei que ela pós os olhos em mim
O vento veio e agitou  seus cabelos
Ergueu-se seu braço e sua mão aquietou-os
Enquanto se distanciava de mim. (22/05/13)